A funcionária do Sicoob de Cuiabá, Elizabeth Aparecida Ugolini, teria permitido, em troca de propina, que o servidor do Tribunal de Contas do Estado, Claudio Roberto Borges Sassioto, gerenciasse a conta de outros membros de um esquema em convênios firmados entre a Fundação de Apoio ao Ensino Superior Público Estadual (Faespe) e órgãos públicos.
A acusação consta na decisão da juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, que culminou na segunda fase da Operação Convescote, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) na manhã desta sexta-feira (30). A funcionária foi uma das 13 pessoas conduzidas coercitivamente.
Segundo a juíza, os empresários Marcos Moreno Miranda e João Paulo Silva Queiroz, que chegaram a ser presos na primeira fase da Operação, confessaram a participação no esquema e confirmaram que não prestavam os serviços constantes nas notas fiscais. Segundo eles, a maior parte do dinheiro era transferido para Claudio Sassioto, também preso na primeira fase.
De acordo com a juíza, os empresários relataram a participação de uma pessoa conhecida como “Bete”, identificada como Elizabeth Ugolini, funcionária de uma agência do Sicoob localizada no interior do TCE-MT.
Os empresários afirmaram que, para agir dessa forma, Elizabeth havia pedido dinheiro aos suspeitos.
Os repasses
Com os cruzamentos de dados bancários, feitos pelo Gaeco, ficou constatado que a funcionária do banco recebeu quatro depósitos de Jocilene Rodrigues de Assunção, esposa de Marcos José da Silva, apontado como um dos líderes do suposto esquema.
De acordo com os dados, Elizabeth recebeu R$ 400 no dia 28 de agosto de 2015; R$ 1,6 mil em 6 de novembro de 2015; R$ 2 mil no dia 29 de dezembro de 2015; e R$ 1,3 mil em 24 de junho de 2016.
Veja os depósitos:
Para Selma Arruda, os dados do Gaeco demonstram a necessidade de que a funcionária do Sicoob seja questionada sobre sua suposta participação no esquema.
“Ora, o fato de haver prova advinda do cruzamento de dados bancários de que Elizabeth Aparecida Ugolini realmente foi beneficiada com depósitos de valores feitos por Jocilene Rodrigues de Assunção, aliado às declarações acima descritas, denota que pode estar envolvida no contexto criminoso, o que indica a necessidade de que seja adquirida a respeito, não apenas para elucidar o motivo dos depósitos, mas também para esclarecer seu eventual envolvimento”, disse a juíza.
Segunda fase
O Gaeco deflagrou na manhã desta sexta-feira (30) a segunda fase da Operação Convescote.
Ao todo, estão sendo cumpridos 13 mandados de condução coercitiva e busca e apreensão, todos expedidos pela Vara Especializada do Crime Organizado de Cuiabá.
A ação apura o desvio de mais de R$ 3 milhões dos cofres públicos por meio de convênios firmados entre a Faespe com a Assembleia, Tribunal de Contas, Secretaria de Estado de Infraestrutura (Sinfra) e Prefeitura de Rondonópolis.
Além do crime de constituição de organização criminosa, também há indicativos da prática de peculato, lavagem de capitais e corrupção ativa.
Entre os alvos da 2ª fase estão o ex-secretário adjunto de Infraestrutura da antiga Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo, Alysson Souza, e o ex-comandante geral da Polícia Militar, Nerci Adriano Denardi.
Foram alvos: Elizabeth Aparecida Ugolini (funcionária do Sicoob); Odenil Rodrigues de Almeida (assessor do deputado Guilherme Maluf); Tscharles Franciel Tschá (ex-secretário-geral da Assembleia); Eneias Viegas da Silva (diretor financeiro do Tribunal de Contas do Estado); Fabricio Ribeiro Nunes Domingues; Alysson Sander Souza (ex-adjunto de Infraestrutura da antiga Secopa); Marcelo Catalano Correa (servidor do TCE); Nerci Adriano Denardi (ex-comandante geral da PM); Drieli Azeredo Ribas (ex-servidora da Assembleia); Maurício Marques Junior (servidor do TCE); Sued Luz (assessor do deputado Guilherme Maluf); Alison Luiz Bernardi (coronel da PM).
1ª fase
De acordo com o Gaeco, os alvos da primeira fase da Convescote, deflagrada no último dia 20, desviaram mais de R$ 3 milhões dos cofres públicos.
O esquema de desvios de recursos, segundo as investigações, era viabilizado pelos pagamentos que órgãos como a Assembleia Legislativa, Tribunal de Contas, além da Secretaria de Infraestrutura (Sinfra) e Prefeitura de Rondonópolis, faziam por meio de convênios com a Faespe para prestação de serviços diversos.
A Faespe, por sua vez, subcontratava empresas (algumas delas "fantasmas"), cujos serviços eram pagos com dinheiro público.
Porém, conforme o Gaeco, quem atesta as notas fiscais dos mencionados "serviços" era um funcionário da própria Faespe e não um servidor público escalado para fiscalizar e supervisionar citados convênios.
Foram alvo de mandados de prisão preventiva: Claudio Roberto Borges Sassioto, Marcos Moreno Miranda, Luiz Benvenuti Castelo Branco de Oliveira, Jose Carias da Silva Neto Neto, Karinny Emanuelle Campos Muzzi de Oliveira (que conseguiu prisão domiciliar), João Paulo Silva Queiroz, José Antônio Pita Sassioto, Hallan Goncalves de Freitas, Marcos Jose da Silva, Jocilene Rodrigues de Assunção e Eder Gomes de Moura.
Dos presos, quatro já conseguiram deixar a cadeia. Karinny Emanuelle Campos Muzzi de Oliveira, Jocilene Rodrigues de Assunção e Marcos Moreno Miranda tiveram as prisões preventivas convertidas em domiciliares, por decisão da juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital.
Já João Paulo Silva Queiroz conseguiu liberdade com tornozeleira eletrônica, também por decisão da magistrada.
Leia mais sobre o assunto:
Ex-comandante da PM e ex-adjunto da Secopa são alvos; veja
Advogado de ex-secretário diz que operação é “cortina de fumaça”
Dois servidores da AL e diretor do TCE estão entre alvos do Gaeco
Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).
0 Comentário(s).
|