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Júlio Campos, enquanto exercia mandato de governador de Mato Grosso em 1985
Um relatório confidencial do Serviço Nacional de Informações (SNI) detalhou a acusação de fraude na eleição para o Governo de Mato Grosso em 1982, vencida por Júlio Campos (DEM).
O documento, de janeiro de 1983, cujo assunto é a “Reação dos peemedebistas face o resultado do pleito em Mato Grosso”, está armazenado no Arquivo Nacional e foi revelado no final do mês passado pelo site Congresso em Foco (veja na íntegra AQUI).
No relatório os "arapongas" do SNI citaram uma representação feita pelo PMDB na 1ª Zona Eleitoral de Cuiabá, no dia 27 de novembro de 1982, solicitando a anulação do pleito, “alegando ter sido, este, viciado, fraudulento e corrupto”. A eleição havia acontecido no dia 15 de novembro.
Apesar do pedido, no dia 10 de dezembro o Tribunal Regional Eleitoral divulgou o resultado oficial, confirmando a vitória de Júlio Campos, na época filiado ao PDS, contra o candidato peemedebista Padre Raimundo Pombo.
O relatório traz uma série de acontecimentos elencados pelo PMDB para denunciar um esquema de fraude na eleição. O mais grave deles foi o assassinado do advogado Celso Quintela, filiado ao partido, que havia perdido a eleição para prefeito de Várzea Grande para o hoje senador Jayme Campos, irmão de Júlio.
“Em 26 de novembro um episódio desagradável levou o PMDB a defender novos motivos pela anulação do pleito em Mato Grosso. Um dos candidatos a prefeito de Várzea Grande (...) foi morto a tiros”, diz um trecho. “A repercussão do crime foi muito grande, passando o jornal “Correio da Imprensa”, principal porta-voz do PMDB no Estado, a expor o fato, dando-lhe conotações políticas”.
O documento segue dizendo que o PMDB passou a insistir na tese de crime político, “muito embora o inquérito policial que se abriu para elucidar o fato tivesse conclusão diferente”.
Os arapongas do SNI avaliaram que a tese de crime político tinha bastante força dentro do PMDB porque Quintela possuía grande interesse em colher provas que pudessem fundamentar um posicionamento a respeito da ocorrência de fraudes e corrupções no processo eleitoral.
O relatório traz até uma declaração do deputado federal eleito em 1982, Dante de Oliveira, então filiado ao PMDB. “Tenho certeza de que a fraude montada pelo Serviço Nacional de Informações em todo o Brasil, órgão que coordenou a campanha fraudulenta em todos os estados da federação”.
Veja trecho:
Os integrantes do SNI relataram também que no dia 21 de janeiro de 1983, o PMDB promoveu um ato público no Centro de Cuiabá, com a presença das principais lideranças partidárias, citando o presidente da sigla no Estado, Edson Freitas de Oliveira, além de outros nomes como Aluísio Arruda, José Garcia Neto, Vicente Bezerra Neto, Gastão de Matos Müller, Manoel Rodrigues Palma, José Lacerda, Carlos Bezerra, Antero Paes de Barros, Edegard Nogueira Borges e Padre Raimundo Pombo.
“A tônica dos pronunciamentos realizados na oportunidade versou sobre as fraudes e os crimes eleitorais que dizem que ocorreram no Estado, garantindo que o PMDB não perdeu as eleições em Mato Grosso, mas foi vergonhosamente roubado pelo PDS”, diz o documento.
Veja trecho:
O texto relata que o convite ao evento trazia os dizeres “Sujo de lama e salpicado de sangue”, entre outros termos críticos ao pleito e ao PDS.
No evento, foi destribuido um panfleto entitulado "Contra a Fraude - pela Justiça - Por novas eleições" em que os peemdebistas denunciavam que o pleito teria ocorrido por meio de fraudes como menores votando, títulos falsificados, indivíduos votando duas, três, oito e mais vezes.
"Tudo isso está provado documentalmente. Só na 1º Zona Eleitoral a incidência do crime ultrapassa a mais de trinta e um mil votos falsos. A par disso, testemunharam incontáveis violações da legislação eleitoral: uma campanha altamente corrupta, com dinheiro público correndo à solta e a pressão e ameaça oficial se fazendo sentir em todos os níveis", diz trecho do panfleto.
Veja texto do panfleto:
Também é citada uma matéria que mais uma vez fala de fraude na eleição. “Não obstante o exagero do autor da matéria, na verdade já existe na Capital do Estado um clima de dúvida a respeito da validade do pleito (...) provocado pela sistemática campanha peemedebista. Ademais, os peemedebistas, além da moralidade do pleito, estão colocando dúvida na moralidade da própria Justiça Eleitoral”.
Segundo a avaliação dos homens do SNI, a continuidade da movimentação poderia provocar dificuldades para a administração estadual e para o futuro do PDS no Estado.
Veja trecho:
O outro lado
O ex-governador Júlio Campos reconheceu que à época da eleição ele e seu irmão, Jaime Campos (DEM) foram alvos de denúncias “com barbaridades”.
Ele afirmou que, apesar das denúncias, nenhuma investigação foi instaurada e nunca prestou esclarecimentos do assunto à Justiça Eleitoral.
“Durante o meu governo, de 1983 a 1986, recebi relatórios permanentes dos nossos adversários do PMDB, e nada foi constatado. Felizmente nunca fomos chamados para prestar nenhum esclarecimento no SNI, ou em qualquer órgão do Governo Federal, e muito menos da Justiça. Júlio e Jaime tem mais de 40 anos de vida pública e limpa”, afirmou.
Comentários (1)
Saudades de grandes lideres? Vicente Bezerra Neto, Gilson de Barros, Edgar Borges e Dante de Oliveira.
enviada por: Graci Ourives de Miranda Data: 12/05/2020 18:06:24