08.09.2025 | 08h:49

NAILTON REIS


Feminicídio-suicídio: Nunca você sem mim

MT liderou ranking em 2024, com 47 feminicídios, e já acumula 35 em 2025

“Nunca você sem mim.” O título do livro de Analba Brazão Teixeira resume o que se repete em Mato Grosso: homens que, ao perderem a parceira, entendem que perdem a si mesmos — e respondem matando e se matando.

 

O estado liderou o ranking em 2024, com 47 feminicídios, e já acumula 35 casos até agosto de 2025. Dentro desse universo, há um padrão específico que o livro descreve: o feminicídio-suicídio.

 

* Em 2023, segundo dados de imprensa e do Anuário de Segurança, Mato Grosso registrou 5 casos dessa natureza.

 

* Em 2024, o número subiu para 8 casos, consolidando o estado no topo nacional.

 

* Em 2025, até junho, levantamos 10 ocorrências reportadas: sendo 3 casos confirmados de feminicídio-suicídio, 1 tentativa de suicídio após o crime, 2 situações em que o autor tentou forjar suicídio da vítima, e 1 caso ainda em apuração, além dos demais feminicídios gerais contabilizados pelo Observatório Caliandra e pelo MPE.

 

Esse duplo silêncio — matar e depois se matar, ou tentar apagar o crime simulando suicídio — mostra que não estamos diante apenas de crimes individuais, mas de um padrão social de masculinidade violenta.

 

Temos políticas de proteção. A Ronda Maria da Penha funciona. O botão do pânico é eficaz. As medidas protetivas são ferramentas legais relevantes. Mas todas essas ações chegam tarde: atuam sobre o efeito.

 

A CPI do Feminicídio poderia ser o dispositivo capaz de mudar a rota — se se colocasse em diálogo com as ciências. Poderia convocar especialistas para entender as múltiplas formas de constituição das masculinidades e propor políticas para os homens antes que eles se tornem agressores. Mas, atravessada pela política, essa possibilidade parece cada vez mais distante.

 

E o que sobra é o “mais do mesmo”: leis que, embora importantes, não previnem o que o livro denúncia e as estatísticas confirmam. Sem ciência, continuaremos enxugando o chão do crime.

 

Se você ou alguém que você conhece está em sofrimento ou pensando em suicídio, procure ajuda agora:

 

* CVV – 188 (ligação gratuita, 24h/7)

 

* cvv.org.br (chat, e-mail e atendimento online)

 

* Emergência: 190 (Polícia) ou 192 (SAMU)

 

* Violência contra a mulher: 180 (Central de Atendimento à Mulher)

 

Cuidar da vida é responsabilidade de todos nós.

 

Nailton Reis é psicólogo clínico com especialização em Neuropsicologia Cognitiva Comportamental.


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