Filho de Júlio investe na produção de ovos caipiras orgânicos

Nascido em uma família cujo nome se confunde com a política do Estado, o empresário Júlio Domingos de Campos Neto, filho do ex-governador Júlio e sobrinho do senador Jaime, resolveu tomar um caminho diferente daquele traçado pelos caciques de casa.

Vendo uma oportunidade de mercado, Julio Neto hoje administra, junto com a família, uma fazenda com produção de ovos caipiras orgânicos.

O empresário começou os negócios em 2019. À época tinha apenas 100 galinhas poedeiras da raça Embrapa 051, que produzem ovos de mesa de casca marrom. O animal é tradicionalmente usado por pequenos produtores rurais de base familiar.

Em entrevista ao MidiaNews, Julio conta que a ideia de começar sua granja surgiu de uma necessidade não atendida. Ele relata que quando os filhos da família chegaram, os pais começaram a notar uma falta de ovos caipiras de qualidade, que era um dos principais produtos consumidos pelos Campos.

Ao observar esse cenário, o empresário decidiu, na companhia da esposa, começar a investir e produzir na propriedade da família. Inicialmente a produção era para consumo próprio, porém não demorou a aparecer mais pessoas interessadas em comprar os ovos produzidos na granja da Família Campos.

“Com as postagens da nossa criação nas redes sociais, começou a surgir uma demanda pelos ovos. Fizemos um plano de negócios e verificamos que não existia granja especializada em ovos caipiras na nossa região. Após esses levantamentos, começamos a investir profissionalmente neste segmento”, explica.

Júlio Neto começou a crescer a sua granja com o intuito, segundo ele, de ajudar a alimentar famílias com ovos caipiras de qualidade. Com a expansão gradativa do negócio, hoje a granja da família já conta com 400 galinhas, um aumento de 300% em relação a 2019. O pai não se envolve no negócio.

Os ovos produzidos na fazenda Futurista, em Chapada dos Guimarães, são vendidos para supermercados do Município e também em Cuiabá e Várzea Grande. O empresário explica que o conceito utilizado em sua granja é o "farm-to-table", que em tradução livre significa da fazenda para a mesa.

O recurso consiste em reduzir os intermediários entre o produtor e o consumidor fazendo com que os produtos cheguem à mesa em um prazo reduzido e a custos enxutos. Essa proximidade entre os dois canais, segundo Júlio Neto, ajuda a manter a boa qualidade do produto e fidelidade com os compradores.

Produção consciente

Além do contato próximo com o consumidor, Júlio Neto diz que desde o início quis fazer este trabalho também pensando no bem-estar das galinhas. O empresário foi orientado por um amigo que já trabalhava como representante em uma empresa de alimentos naturais.

Com as orientações, ele decidiu adotar as normas do "Humane Farm Animal Care", que é a principal organização internacional sem fins lucrativos de certificação voltada para a melhoria da vida das criações animais na produção de alimentos.

Segundo ele, além da melhoria na vida das galinhas criadas na fazenda, o tratamento é uma maneira de construir uma produção local de alimentos com qualidade e dentro do modelo de negócio já existente e que dá certo no Brasil.

Como resultado da produção, Júlio Neto destaca a liberdade, a naturalidade e a felicidade em que as galinhas vivem, realidade diferente de alguns outros produtores que mantêm seus animais presos em gaiolas. E isto é algo que, segundo ele, reflete no produto final, que são os ovos revendidos pela família.

“A gema e a clara possuem coloração e odor diferentes. A casca do ovo é mais resistente. As vitaminas dos ovos das galinhas soltas são reforçadas pela luz do sol, frutas e gramíneas da área de pasto. Além da questão energética do animal que vive infeliz, preso de forma apertada, sem direito a andar, ciscar, tomar banho de areia e sol”, explica.

Dificuldades e futuro

Apesar de enfrentar uma época de pandemia, o empresário afirma que não sentiu impacto na demanda por seus produtos. "Na verdade quem trabalha com o agronegócio não tem o que reclamar”, diz. Segundo ele, o período foi de crescimento no consumo e procura por ovos de qualidade.

“A nossa produção é pequena e estamos vendendo muito bem nos dois canais que trabalhamos. Tanto nos supermercados como através do sistema farm to table, onde os ovos saem da fazenda diretamente para a casa do cliente”, afirma.

Apesar de não ter sido atingido neste setor, ao ser questionado sobre planos de uma expansão ainda maior nos negócios, o empresário afirma que não vê isso acontecendo muito em breve. Isto porque, como ele explica, apesar de a procura ter aumentado, o preço do milho cresceu de forma exorbitante.

O grão é usado como base na alimentação das galinhas que vivem na fazenda Futurista e, por isso, aumentar o número de animais no momento não seria um bom negócio.

Ele também cita o aumento no preço do combustível, essencial para poder transportar os produtos, e a queda de rendimento da população, que dificulta a aquisição de alimentos de melhor qualidade. Por isso, o plano por enquanto é manter a produção como está.

De acordo com Júlio Neto, o aumento do número de produtores é o caminho para que cresça a quantidade de produtos no mercado e consequentemente caia o preço.

“Para mim é honra e privilégio estar podendo contribuir com a alimentação das famílias mato-grossenses levando ovos caipiras. Pessoalmente também acredito na potencialidade do nosso Estado se tornar referência mundial em produção de alimentos orgânicos e naturais. É um novo modelo de desenvolvimento para Mato Grosso e principalmente para as pequenas e médias propriedades rurais”, finaliza.