13.05.2018 | 08h:10

CIDADE VERDE


Primeira "Cohab" de Cuiabá ainda sofre com infraestrutura falha

Mesmo com problemas, moradores garantem que “não há lugar melhor para se morar”

Alair Ribeiro/MídiaNews

Ruas estreitas são características de bairro

Na Cuiabá dos anos 60, quando ainda se assistia filmes nos cinemas de rua, não havia TV a cores, e a maioria das residências se localizavam no centro da cidade, o governador Pedro Pedrossian lançou o primeiro Conjunto Habitacional (Cohab) de Cuiabá, o Cidade Verde.

 

O projeto arrojado concederia casas a parte dos 100 mil habitantes da Capital Mato Grosso. Com ares de condomínio, o residencial foi lançado e abrigou 365 famílias. 

 

Um delas foi a família da senhora Lúcia Souza Coelho, 81 anos. Ela foi a segunda moradora do Cidade Verde. Na pequena casa da Cohab, criou os cinco filhos biológicos e outros cinco adotivos.

 

“Eu gosto daqui. Eu sou ‘moradeira’ desde o início. Eu tenho cinco filhos meus, e cinco que criei. Porque o meu coração é de ajudar as criancinhas até hoje...”, disse Lúcia.

 

Alair Ribeiro/MidiaNews

Há 50 anos, Lúcia Souza Coelha mora no bairro

A servidora pública aposentada lembra nostálgica da época em que sentava na porta de casa para trocar conversa com a vizinhança. “Tudo era melhor que agora. Era um bairro calmo, não tinha essas coisas que esta tendo agora, podíamos andar até a noite. Hoje não podemos mais sentar nem na porta. Eu não tenho medo de nada, mas é bom a gente evitar”, brinca.

 

Aos que passam na rua, dona Lúcia é sempre conhecida: “É morada antiga e muito querida daqui”, diz um morador do Cidade Verde.

 

A avenida principal, que recebe o nome de Avenida Ezequiel Generoso Malheiros em homenagem ao fazendeiro que fez a doação de terras para a construção do Bairro, é possível ver o senhor Gilson Barbosa, 67 anos, sentado em uma das cadeiras do bar mais antigo do bairro.

 

Há 40 anos, o senhor veio de Natal (RN) e se instalou em Cuiabá. Chegou a abrir um comércio, mas fechou e abriu o bar, e com o sustento do empreendimento criou dois filhos.

 

Mas nem tudo são flores. O filho do senhor Gilson foi assassinado em um assalto no próprio bar. No entanto, isso não o desanimou.  

 

“Meu filho caçula foi assassinado aqui, em um assalto. Isso são coisas da vida, não pode ser fraco nessas horas”.

 

Escola de Samba

Alair Ribeiro/MidiaNews

Senhor Gilson, proprietário do bar que fica na rua principal do bairro

 

Em uma das ruas do Cidade Verde é possível ver uma casa imponente, de dois andares, com estruturas de insetos e uma placa escrito “Niina”. Essa é a residência do fundador da escola de samba “Marinheiros do Samba”, Nelson Bueno.

 

No bairro, ainda teve outra escola, também extinta, que desfilou pelos carnavais de Cuiabá: a “Acadêmicos do Pedroca”, fundada por Pedro Camargo.

 

Conhecido como “Camargo”, foi um dos responsáveis por trazer o carnavalesco carioca “Joãozinho Trinta”. “Ele tomou uma cerveja e cantou aqui no meu bar”, disse Gilson.

 

Estrutura

 

Nos anos 60, o governo estadual recebeu uma doação de um terreno gigantesco localizado às margens do Rio Cuiabá. Após dois anos de construção, no dia 1 de maio de 1968, foi inaugurado o bairro, com ares de condomínio. Atualmente moram ali 2500 pessoas em 365 casas. 

 

O que chama a atenção por quem passeia pelas ruas do bairro é a largura das vias – tão estreitas que parecem calçadas. Ali, é impossível se aplicar a lei de não estacionar na calçada. Na rua, há espaço apenas para um carro.

 

O conselheiro tutelar Oilson Fermiano de Souza Júnior, 39 anos, e ex-presidente do bairro, explica que o bairro foi projetado para se um condomínio, por isso ruas tão estreitas. 

 

Os carros, à época ainda poucos, eram estacionados entre um quarteirão e outro, onde havia um grande espaço. 

 

Mesmo que quisessem, não há como alargar as ruas, já que as calçadas também são pequenas. O jeito foi ver graça, no que seria um problema. “O diferencia nosso bairro dos outros são as ruas, carro grande ali tem dificuldade para passar”, brinca Oilson.

 

Nos espaços destinados aos carros foram sendo destinados a outros fins. Praças, quadra de esporte e uma capela. 

 

A Capela São João Batista foi construída pelo pai de Oilson, também morador do bairro. “O meu pai foi fundador do grupo desportista Cidade Verde. Em 1991, foi construída a capela São João batista. Na minha visão, depois do asfalto que chegou ao bairro, foi a obra mais importante que o bairro recebeu”.

 

Demandas

 

Alair Ribeiro/MidiaNews

Praça construída em um dos locais que, antigamente, funcionava como estacionamento

Em Cuiabá, 48% das residências não possuem ligação de esgoto. As casas do bairro Cidade Verde fazem parte da estatística. 

 

De acordo com Oilson, essa é uma das principais demandas dos moradores, que sem alternativa fazem as ligações nas redes pluviais.

 

“Lá ainda não tem esgoto – não tem uma unidade adutora para cobrir esgoto. O esgoto sai por ligações diretas na rede pluviométrica”. 

 

Ele ainda lembra que, atualmente, a principal queixa da população é a reforma do complexo do Centro Comunitário. No entanto, na comemoração dos 50 anos do bairro, no dia 4 de maio, o presidente do bairro Josias Lemes Rodrigues anunciou o início das obras. 

 

“Todo ano tem alguma festa para gente comemorar. E também comemoramos a criação da feira que é com barracas montadas pelos próprios moradores”. 

 

 

 


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