Vídeos juntados na investigação da Operação Bereré (veja ao final da matéria) mostram o momento em que o empresário Roque Reinheimer, sócio da Santos Treinamento, vai até a sede da empresa EIG Mercados, em Brasília.
As "visitas" ocorreram nos dias 5 e 7 de março, após a deflagração da 1ª fase da operação, que apura esquema de fraude, desvio e lavagem de dinheiro no âmbito do Detran-MT, na ordem de R$ 30 milhões, que operou de 2009 a 2015.
Segundo as investigações, parte dos valores repassados pelas financeiras à EIG Mercados por conta do contrato com o Detran retornava como propina a políticos e empresários, dinheiro esse que era “lavado” pela Santos Treinamento – parceira da EIG no contrato - e por servidores da Assembleia, parentes e amigos dos investigados.
Roque Reinheimer foi preso na 2ª fase da Bereré, deflagrada na semana passada pelo Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), sob a acusação de ser um dos protagonistas do esquema e de ter tentado atrapalhar as investigações.
As gravações foram trazidas ao Gaeco pelo empresário José Henrique Gonçalges, sócio da EIG e delator do esquema. Ele disse que Roque o procurou para exigir os pagamentos das propinas que a empresa parou de pagar a ele após a rescisão do contrato de fachada firmado entre a EIG e a Santos.
No primeiro vídeo, datado de 5 de março, é possível ver que Roque chega pela manhã na sede do escritório e aguarda alguns segundos até ter a entrada autorizada.
Conforme o vídeo, o empresário ficou pouco mais de cinco minutos no local.
Já a gravação feita no dia 7 de março mostra que Roque não chegou a entrar no escritório.
Ele foi atendido no portão por uma funcionária, conversou com ela por alguns instantes e depois foi embora de carro.
De acordo com o delator José Henrique, Roque Reinheimer o procurou para exigir a continuidade do pagamento das propinas que a EIG repassava na gestão do ex-governador Silval Barbosa.
O delator também relatou ao Gaeco que o sócio da Santos também procurou um de seus advogados (Hugo Florêncio), em abril, “de forma abrupta e tensa”.
“Conforme já provado no bojo da colaboração premiada firmada, tem-se que é a segunda oportunidade que o investigado Roque busca contato com o peticionante, de forma insistente. Mesmo após a deflagração da fase ostensiva da denominada Operação Bereré, o investigado Roque não cessa suas investidas, o que tem preocupado não só o peticionante, mas seu pai – também colaborador – e seus defensores”, disse o delator.
A situação levou o Gaeco a pedir a prisão de Roque, que foi acatada pelo desembargador José Zuquim Nogueira, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT).
“As provas dos autos demonstram, portanto, de forma clara a interferência de Roque Anildo Reinheimer na produção da prova, atuando dissimuladamente a ajudar a ocultar a participação de outros integrantes da organização criminosa, buscando interferir no animus de outros integrantes da organização criminosa, seja pela montagem de documentos, pela ameaça, pela extorsão, de modo que sua prisão preventiva é necessária para a garantia da investigação criminal e da instrução processual penal”, diz trecho do pedido de prisão.
Veja os vídeos:
A operação
A segunda fase da Operação Bereré resultou na prisão dos seguintes alvos: o deputado estadual Mauro Savi (DEM); o ex-secretário-chefe da Casa Civil, Paulo Taques e seu irmão Pedro Jorge Taques; os empresários Roque Anildo Reinheimer e Claudemir Pereira dos Santos, proprietários da Santos Treinamento; e o empresário José Kobori, ex-diretor-presidente da EIG Mercados.
De acordo com as investigações, entre os meses de julho e agosto do ano de 2009, quando Teodoro Moreira Lopes o “Dóia” ocupava o cargo de presidente do Detran, foi convocado para uma reunião no gabinete do deputado Mauro Savi. No local estavam presentes, além do parlamentar, Marcelo da Costa e Silva e Roque Anildo Reinheimer, ambos investigados no caso.
Na ocasião, Marcelo Silva e Roque Anildo teriam oferecido a Dóia a execução da atividade de registro junto ao Detran dos contratos de financiamento de veículos com cláusula de alienação fiduciária, de arrendamento mercantil, de compra e venda com reserva de domínio ou de penhor dizendo que apresentariam ao então presidente da EIG Mercados.
Conforme, o MPE, na ocasião a empresa se oferecia a formular contrato administrativo com o Detran para prestar o serviço de registro de contratos junto à entidade de trânsito. Na oportunidade, um dos sócios da empresa, a fim de garantir a prestação de serviços, teria se comprometido a repassar o valor equivalente ao pagamento de um mês às campanhas eleitorais do deputado Mauro Savi e do então governador Silval Barbosa.
Os promotores dizem que a promessa teria sido cumprida no valor de R$ 750 mil para cada um dos candidatos, logo após a assinatura do contrato.
Para que a empresa fosse a vencedora do edital, na época o antigo presidente do Detran determinou que a comissão de licitações do Detran confeccionasse o edital de licitação nos mesmos moldes que a empresa FLD Fidúcia - hoje EIG Mercados - já havia vencido no Piauí. Desde então, segundo o MPE, a empresa é responsável pelo pagamento de propinas a organização ciminosa.
Consta nas investigações que após a assinatura do contrato administrativo, "Mauro Savi, Claudemir Pereira dos Santos, Teodoro Lopes e outros investigados se organizaram a fim de garantir a continuidade do contrato, formando uma rede de proteção em troca do recebimento de vantagens pecuniárias da parte da FDL, propina na ordem de 30% (trinta por cento) do valor recebido pela FDL do Detran repassado por intermédio de empresas fantasmas que foram criadas em nome dos integrantes da rede de proteção do contrato".
"Esquema que teve continuidade com a mudança de Governo e a participação de Paulo César Zamar Taques e seu irmão Pedro Jorge Zamar Taques", afirmou o MPE.
Os promotores explicam que no ano de 2015 - quando Silval da Barbosa deu lugar ao atual governador Pedro Taques -, ao ter informações do esquema de recebimento de propinas operado dentro do Detran, Paulo Taques e Pedro Zamar Taques - primos do governador - apropriaram-se do esquema de recebimentos, com ajuda de Valter José Kobori.
Em depoimento colhido junto a um dos proprietários da empresa EIG Mercados Ltda, foi revelado ao MPE que após acertar os pagamentos com a antiga gestão Silval Barbosa a EIG Mercados contratou Valter Kobori como CEO (Chief Executive Officer). Desde então seria ele a pessoa responsável em receber pessoalmente a propina sob título de bônus pelos serviços pessoais prestados a empresa e repassar o dinheiro para Paulo Taques.
Segundo o depoimento as negociações foram feitas antes mesmo do resultado das eleições de 2014 onde Valter Kobori já havia combinado com Paulo Cesar Zamar Taques o auxílio para manutenção do esquema.
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