Cuiabá, Quinta-Feira, 3 de Julho de 2025
SODOMA 5
16.03.2017 | 13h52 Tamanho do texto A- A+

Nadaf: ex-adjunto entregava propinas de construtoras a Silval

Valdísio Juliano Viriato foi denunciado pelo Ministério Público na 5 ª fase da Operação Sodoma

Rogério Florentino/Olhar Direto

O ex-secretário-adjunto, Valdísio Juliano Viriato, que está preso no CCC

O ex-secretário-adjunto, Valdísio Juliano Viriato, que está preso no CCC

THAIZA ASSUNÇÃO
DA REDAÇÃO

O ex-secretário chefe da Casa Civil do Estado, Pedro Nadaf, afirmou ter presenciado o ex-secretário-adjunto da Secretaria de Estado de Transporte e Pavimentação Urbana (Setpu), Valdísio Juliano Viriato, entregando cheques de propinas de construtoras para o ex-governador  Silval Barbosa (PMDB). A SEPTU é a atual Secretaria de Estado de Infraestrutura (Sinfra).

 

A declaração consta na denúncia do Ministério Público Estadual (MPE) relativa à 5ª fase da Operação Sodoma.

 

Viriato está preso desde o dia 15 de fevereiro no Centro de Custódia de Cuiabá (CCC) suspeito de integrar esquema que teria desviado R$ 8,1 milhões dos cofres do Estado, por meio da exigência de propina aos sócios do Auto Posto Marmeleiro e da Saga Comércio e Serviço de Tecnologia e Informática Ltda, Juliano Volpato e Edézio Corrêa, em troca da concessão de contratos e de compras fraudulentas de combustível.

 

Em depoimento ao MPE, Nadaf afirmou que ex-secretário da Setpu era uma pessoa de convívio e confiança de Silval, este último considerado chefe da organização criminosa.

 

Tendo, inclusive, o interrogando no ano de 2014 presenciado Valdisio Viriato entregar cheques de propinas de construtoras para Silval Barbosa em beneficio da organização, se lembrando que alguns cheques eram da construtora OK Construtora

Além disso, segundo Nadaf, ele mantinha estreito contato com o ex-chefe de gabinete do ex- governador, Sílvio Cézar Corrêa Araújo, que seria um “braço direito” de Silval na organização criminosa.

 

Conforme Nadaf, Viriato foi utilizado pelo ex-governador para a prática dos crimes e levantamentos de recursos ilícitos na Setpu.

 

“Tendo, inclusive, o interrogando no ano de 2014 presenciado Valdisio Viriato entregar cheques de propinas de construtoras para Silval Barbosa em beneficio da organização, se lembrando que alguns cheques eram da construtora OK Construtora”, diz trecho do depoimento de Nadaf.

 

O ex-secretário chefe da Casa Civil, que é réu confesso, também afirmou ter recebido cheques de propinas orindos da Setpu das mãos de Viriato, para que ele os entregasse para Silval Barbosa, pois, naquela oportunidade, o ex-governador estava ocupado em atendimento político.

 

“Que o interrogando sempre ouviu no governo e entre os membros da organização que Valdisio levantou muito dinheiro ilícito na Sinfra oriundos das construtoras, pois a Sinfra foi muito utilizada pela organização no recebimento de propina, tendo em vista que era uma secretaria com orçamento vultoso”, diz outro trecho do depoimento de Nadaf.

 

“Braço da organização”

 

O ex-secretário de Administração do Estado, Pedro Elias, delator da Sodoma, também revelou em depoimento ao Ministério Público que Valdisio Viriato era o "braço da organização liderado por Silval na Sinfra”.

 

Conforme Pedro Elias, com a função de secretário executivo, Valdisio controlava todos os pagamentos realizados na secretaria.

 

“Que Valdisio Viriato era de extrema confiança de Silval Barbosa e Sílvio Correa, sendo que, por diversas vezes, o viu no gabinete do governador, para despachar com Silval Barbosa e Silvio Correa, algo incomum para o cargo a qual o mesmo exercia”, diz trecho do depoimento de Pedro Elias.

 

O delator e ex-secretário de Administração César Zilio também confirmou ao MPE que Valdisio Viriato era o “braço da organização da Sinfra”.

 

“Que no que tange ao Sr. Valdisio Viriato tem conhecimento que Valdisio se reportava apenas e exclusivamente a Sílvio Cesar Correa Araújo e Silval Barbosa, o interrogando tem ciência de que todo os assuntos de interesses ilícitos de Silval Barbosa na Sinfra eram executados por Valdísio Viriato, sendo o braço da organização na Sinfra, sabendo que o cargo em que Valdisio foi colocado na Sinfra por Silval Barbosa lhe dava os poderes para tratar com os pagamentos que a Sinfra efetuava com as empreiteiras”, disse César Zilio em depoimento ao MPE.  

 

“Adesão aos objetivos criminosos”

 

Marcus Mesquita/MidiaNews

Pedro Nadaf 290816

Pedro Nadaf contou em depoimento ao MPE que presenciou Viriato entregando propina para Silval

Na denúncia, a promotora de Justiça Ana Cristina Bardusco afirmou que Valdisio Viriato fazia parte da organização criminosa desde sua constituição, “evidenciando sua plena adesão aos objetivos criminosos do grupo, seu destacado e forte vínculo de afinidade e confiança com o Líder Silval Barbosa”.

 

Conforme a promotora, as declarações dos colaboradores e do próprio Viriato da SEPTU- que confirmou, em depoimento a autoridade policial que despachava com diretamente com Silval e Silvio - mostra que ele mantinha canal direto com o gabinete do governador “sem a intermediação do respectivo Secretário da SETPU, exteriorizando, mais uma vez, seu prestígio no grupo”.

 

De acordo com Ana Bardusco, o ingresso de Viriato como membro no grupo se deu pelo vínculo de confiança que mantinha com o ex-governador, desde quando Silval exercia o mandato de deputado estadual.

 

 “O estreitamento desse vínculo também restou estendido e revelado no Poder Executivo Estadual, pois eleito em 2006 a vice-governador do Estado, Silval Barbosa, aproveitando que se encontrava no exercício de governador, prontamente nomeou Valdisio Viriato para exercer o cargo em comissão de Superintendente de Desenvolvimento Regional22 da Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral (Seplan), onde permaneceu de 07/05/2007 a 30/06/2008”, diz trecho da denúncia.

 

Depois, conforme o documento, Viriato assumiu o cargo de superintendente de Desenvolvimento Territorialda Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação (Seplan), do qual foi exonerado em junho de 2010 quando foi nomeado por Silval Barbosa, que na época já se encontrava empossado como governador, ao cargo de secretário sdjunto de Gestão Sistêmica da Secretaria de Estado de Infraestrutura (Sinfra).

 

“Portanto, Silval Barbosa, já como governador do estado eleito (2011-2014), buscando facilitar o livre trânsito e o poder de ingerência da organização criminosa na importante pasta que representava a Secretaria de Estado de Transportes e Pavimentação Urbana – SETPU - (SINFRA), estrategicamente nomeou o prestigiado membro Valdisio Viriato no cargo de secretário adjunto Executivo da Secretaria Executiva do Núcleo de Trânsito, Transporte e Cidades, que era vinculada a Secretaria de Estado de Transportes e Pavimentação Urbana – SETPU, sendo que, posteriormente, passou a exercer o cargo de Secretário Adjunto de Gestão Sistêmica da SETPU”, pontua a denúncia.

 

A denúncia

 

Além de Viriato, o MPE denunciou o advogado Francisco Anis Faiad, que na época dos fatos exercia o cargo de secretário de Administração; o ex-governador Silval da Cunha Barbosa (PMDB); seu filho Rodrigo Barbosa; o ex-secretário de Indústria, Comércio, Minas, Energia e Casa Civil, Pedro Nadaf; o ex-secretário de Fazenda, Marcel de Cursi; o procurador aposentado do Estado Francisco Gomes de Andrade Lima Filho; o ex-chefe de gabinete de Silval, Sílvio Araújo; e o ex-secretário adjunto de Administração, coronel José Cordeiro.

 

Também foram denunciados os ex-secretário de Administração César Zílio e Pedro Elias; o ex-secretário de Planejamento, Arnaldo Alves de Souza Neto; a ex-funcionária de Nadaf, Karla Cintra; os empresários Juliano Volpato e Edézio Corrêa; e os servidores Alaor Zeferino de Paula e Diego Pereira Marconi.

 
Na representação, o MPE destacou que nesta fase da operação foi apurado que a organização criminosa solicitou e recebeu propina de R$ 3,05 milhões entre outubro de 2011 a dezembro de 2014, da empresa Marmeleiro Auto Posto Ltda.

 

Em contrapartida, foram fraudados três pregões presenciais que viabilizaram a permanência da referida empresa na condição de fornecedora de combustível para o abastecimento de toda a frota do Poder Executivo Estadual.

Foram constatados, ainda, desvios de dinheiro público junto a Secretaria de Estado de Transporte e Pavimentação Urbana no valor aproximado de R$ 5,1 milhões, no período de fevereiro de 2013 a outubro de 2014, mediante a prática fraudulenta de inserções fictícias de consumo de combustível por meio do sistema eletrônico de gestão de abastecimento que era gerido pela empresa Saga Comércio e Serviço Tecnologia e Informática Ltda.

 

As duas empresas, juntas, receberam aproximadamente R$ 300 milhões, entre os anos 2011 a 2014, do Estado de Mato Grosso, em licitações fraudadas

“Na medida em que as investigações avançam, reafirma-se a existência e efetiva ação de organização criminosa que se estabeleceu no seio do Poder Executivo do Estado de Mato Grosso com o propósito de capitalizar vantagem indevida, exigindo, solicitando, recebendo recursos da classe empresarial mato-grossense, fraudando licitações e desviando / apropriando recursos públicos, promovendo verdadeira sangria na Receita Pública do Estado”, ressaltou a promotora, em trecho da denúncia.

 

Leia mais:

MPE faz gráfico da estrutura da "organização criminosa"; veja

 

MPE denuncia Silval, Faiad e mais 15 na quinta fase da Sodoma

Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).




Clique aqui e faça seu comentário


COMENTÁRIOS
0 Comentário(s).

COMENTE
Nome:
E-Mail:
Dados opcionais:
Comentário:
Marque "Não sou um robô:"
ATENÇÃO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. Comentários ofensivos, que violem a lei ou o direito de terceiros, serão vetados pelo moderador.

FECHAR

Preencha o formulário e seja o primeiro a comentar esta notícia