Criado em 24 de fevereiro de 1932, por intermédio do Decreto nº 21.076, mas somente instalado em 11 de novembro do mesmo ano, o Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso completa nesta data 85 anos de história.
Foram 85 anos de grandes desafios na disponibilização de instrumentos aos eleitores mato-grossenses, com especial destaque para a realização periódica de eleições livres, participativas e competitivas, além da busca incessante da "verdade eleitoral".
Ao longo da história do Brasil, o direito de votar e de ser votado foi garantido e proibido, ampliado e restringido, além de ter sido instrumento de exercício da cidadania e meio de coerção de classes sociais dominantes sobre camadas menos favorecidas da população.
Data de 1532 a primeira eleição organizada em terras brasileiras, realizada na sede da capitania de São Vicente (Estado de São Paulo). Já a primeira eleição em terras mato-grossenses ocorreu em 8 de abril de 1719, quando da fundação do Arraial de Bom Jesus de Cuyabá.
As eleições nos primórdios do Brasil sempre foram conduzidas pelos governantes e a relação entre Estado e religião era tamanha até fins do Império, que algumas eleições vieram a ser realizadas dentro das igrejas.
E, durante algum tempo foi condição, para ser eleito, a profissão da fé católica. Essa ligação entre política e religião somente cessou com a vigência da Constituição de 1891, que determinou a separação entre a Igreja e o Estado.
Além disso, o voto censitário adotado durante todo o período imperial permitia que somente 1,5% da população brasileira tivesse capacidade eleitoral.
Na primeira eleição direta para presidente da República, em 1894, Prudente de Morais chegou ao poder com cerca de 270 mil votos que representavam quase 2% da população brasileira à época.
Em 1916, o presidente Wenceslau Brás, preocupado com a seriedade do processo eleitoral, sancionou a Lei 3.139, que entregou ao Poder Judiciário o preparo do alistamento eleitoral, e em Mato Grosso as eleições passaram a ser confiadas ao Tribunal de Apelação (atual Tribunal de Justiça).
Por confiar ao Judiciário o papel de principal executor das leis eleitorais, muitos percebem nessa atitude o ponto de partida para a criação da Justiça Eleitoral, que só viria a acontecer em 1932.
A instituição da Justiça Eleitoral no Brasil foi consequência do movimento revolucionário de 1930, que tinha como uma das principais bandeiras a moralização das eleições no país, já ressabiado com as fraudes e violências em matéria eleitoral que marcaram toda a República Velha.
Em Mato Grosso, a instalação do TRE ocorreu em 11 de novembro de 1932, no edifício da Assembleia Legislativa, localizado no cruzamento das ruas Pedro Celestino e Campo Grande.
O primeiro desafio dessa inaugural gestão foi a realização da primeira eleição totalmente administrada pela Justiça Eleitoral para a escolha dos representantes do povo em Assembleia Nacional Constituinte, realizada no dia 3 de maio de 1933.
Mas, em 10 de novembro de 1937, Getúlio Vargas anuncia a "nova ordem" do País, endurecendo o regime ditatorial no Brasil.
O Senado, a Câmara dos Deputados, as assembleias legislativas e as câmaras municipais foram dissolvidos; os partidos políticos abolidos e as eleições diretas suspensas. Foi estabelecida a eleição indireta para presidente da República e, como consequência, foi extinta a Justiça Eleitoral.
Em 1945, veio a redemocratização do país, quando os ministros militares destituem Getúlio Vargas e passam o governo ao presidente do Supremo Tribunal Federal.
Surge então a urgente necessidade de realização de eleições para presidente, senadores e deputados federais, representantes do povo na Constituinte.
Assim, por meio do Decreto-Lei nº 7.586/1945, é recriada a Justiça Eleitoral e regulamentada toda a matéria eleitoral. O TRE de Mato Grosso foi reinstalado em 6 de junho de 1945, vindo a funcionar de forma ininterrupta até os dias atuais.
Atualmente, o TRE de Mato Grosso tem seu funcionamento garantido pelo art. 120 da Constituição de 1988, com muitos novos desafios, com especial destaque para a implantação do Processo Judicial Eletrônico (PJE), do cadastramento biométrico de todos os eleitores mato-grossenses, pela criação de instrumentos que permitam a iniciativa popular no processo legislativo, no combate à corrupção eleitoral, na garantia do acesso à Justiça Eleitoral e na redução nos custos de funcionamento.
MÁRCIO VIDAL é desembargador e presidente do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso (TRE-MT).
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1 Comentário(s).
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Carlos Nunes 11.11.17 16h30 | ||||
Puxa vida! O maior desafio deve ser mesmo em 2018. Quanto vai custar pra eleger 1 Governador, 2 Senadores, Deputados Federal e Estadual? Da onde virá tanto dinheiro? Não me refiro aquele que será declarado no TRE/MT, pois nessa quantia só o TRE/MT acredita...ninguém mais. Os mais de 70 delatores da Odebrecht disseram: Quem é que vai dar doação a partido nenhum, se não receber algo em troca. O perigo são os Caixas 2, a compração de voto danada, e outras coisitas mais. Tem o TRE/MT estrutura suficiente pra barrar tudo isso? | ||||
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