Vem ano e vai ano, mas os reajustes da tarifa de ônibus continuam no olho do furacão e das críticas.
No caso de Cuiabá, o alarde é injustificável: há motivos de sobra para aumentar o valor para R$ 3,80. Se você duvida, aqui vão seis motivos.
1 – Reforço na economia: como o calor é insuportável e nem sempre (quase nunca) os pontos de ônibus são próximos ao trabalho/residência, somos obrigados a nos refrescar durante a jornada.
Para tal, consumimos sucos de origens suspeitas, geladinhos e cremosinhos produzidos com a mais pura água da torneira - fornecida pela competente CAB Cuiabá -, movimentando a economia local, o que é importante neste ciclo de crise. Sem contar os salgados que compramos para enganar a fome após vários minutos de caminhada, totalmente higienizados e – garanto - livres de qualquer risco de intoxicação alimentar.
Além disso, os constantes assaltos aos celulares dos usuários dentro dos coletivos contam como ponto positivo. O roubo obriga o passageiro a comprar outro aparelho, contribuindo para o crescimento da economia e para a manutenção de empregos.
2 – Promoções imperdíveis: apesar de ser proibido qualquer comércio no interior do ônibus, sabemos que tal regra não é respeitada. Ainda bem. Regras existem para serem quebradas, não é mesmo? Então vamos aproveitar.
A melhor delas é a de uma instituição que recupera dependentes químicos, os quais vendem um conjunto de caneta e chaveiro por R$ 3. Além de ajudar na reabilitação, reflita: em que outro lugar, além do ônibus, você consegue comprar um conjunto com caneta e chaveiro por um preço tão justo?
3 – Música de qualidade: falando em quebrar regras, também não se respeita a lei municipal, sancionada há dois anos, que proíbe música alta no interior dos coletivos. Tanto que as próprias empresas ainda mantêm caixas de som nos veículos, que continuam a reproduzir a trilha sonora oriunda do refinado gosto musical dos condutores.
Desta forma, ao invés de gastar a bateria do celular para ouvir música – ou até mesmo gastar dinheiro com aplicativos pagos – podemos ouvir os últimos lançamentos de várias rádios gospel, sertanejas e de eletrobrega totalmente de graça. Sorte nossa que as “inspeções” feitas periodicamente pela Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana nunca veem isso.
4 – Aroma da cidade: engana-se quem pensa que as concessionárias do transporte público cuiabano não instalam ar-condicionado nos veículos para poupar dinheiro.
Na verdade, a falta do eletrodoméstico faz parte de um programa feito em parceria com a Prefeitura para resgatar os laços do cuiabano com a cidade, denominado Treinamento do Reforço Olfativo Único dos Xomanos Atentos (TROUXA).
Ou seja: ao invés de um ar geladinho e artificial, que não traz a cultura do município, o programa obriga os usuários a abrirem as janelas e respirarem aquele gostoso bafo de ar quente carregado com os diversos aromas da cidade. Tem pra todo gosto. “Crack rústico”, na região próxima ao Morro da Luz; “Esgoto no sol quente”, próximo da UFMT, e o “Chuva com lixo”, na Praça Alencastro.
5 – Interação social: é constante o debate sobre o isolamento das pessoas em seus celulares e computadores. Tão grave problema inexiste nos ônibus que transitam em Cuiabá. Como você vai usar o celular se mal consegue se mexer dentro do veículo? A disputa pelos milímetros cúbicos para se acomodar obriga os usuários a estabeleceram contato e diálogo entre si.
Não raras vezes há constantes batalhas travadas entre bundas e rostos, cotovelos e joelhos, mochilas e costas, bolsas e barrigas, que resultam em amor e ódio. Aquele empurra-empurra quando entra gente e sai gente, quando senta e quando levanta, é uma faculdade de jogo de cintura – literalmente – e de mediação de conflitos interpessoais.
A interação nos coletivos também nos dá várias lições de extrema importância para a vida, como a de ter coragem suficiente para tomar decisões em situações difíceis.
Exemplo: sentar na janela e ter só um lado do rosto torrado pelo sol, envelhecendo 10 anos em 1 hora, ou ficar em pé e ser encoxado, pisoteado, agredido por acidente e obrigado a cheirar axilas suadas?
6 – Saúde garantida: apesar de, aparentemente, os novos pontos de ônibus terem sido projetados para cidades frias da Europa, o projeto visa a garantia da melhoria da saúde dos usuários.
Como os pontos não protegem ninguém do sol, maior fonte de vitamina D, os cidadãos não terão problemas com a falta desta substância no organismo, cuja escassez pode favorecer a incidência de 17 tipos de câncer.
Sem contar que os pontos igualmente não protegem da chuva, logo, os usuários levarão tantos banhos d’água que seus corpos criarão imunidade contra o vírus da gripe e – para os que sobreviverem - contra a bactéria que transmite a leptospirose.
LUCAS RODRIGUES é jornalista dos sites MidiaNews e Midiajur e pós-graduando em Ciências Políticas.
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5 Comentário(s).
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Gustavo Souza 17.01.16 22h28 | ||||
kkkkkk ri muito com seu texto inteligente e sarcástico.... infelizmente somos obrigados a engolir um tranporte publico de pessima qualidade | ||||
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Paula 17.01.16 18h25 | ||||
Apesar de achar que o autor pegou pesado em alguns pontos, mas no geral ADOREI e no fundo, a verdade é essa mesma... | ||||
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Leandro Alves 17.01.16 17h18 |
Leandro Alves, seu comentário foi vetado por conter expressões agressivas, ofensas e/ou denúncias sem provas |
Jones Miranda 17.01.16 16h50 |
Jones Miranda, seu comentário foi vetado por conter expressões agressivas, ofensas e/ou denúncias sem provas |
Edmilson 17.01.16 11h30 | ||||
Incrível. ...sabe que eu não tinha pensado por esse lado!!! Apoiado. $3,80 ta em barato por todos esses beneficios.será que não da pra incluir uma gorjeta para os vereadores e motoristas nessa lista? | ||||
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