Interceptações telefônicas da Polícia Civil revelaram que o ex-secretário de Estado Pedro Nadaf conversou com a ex-servidora da Jucemat, Narjara de Barros, no dia 15 de setembro de 2015, avisando por meio do aplicativo “WhatsApp” que algo de ruim poderia acontecer a ele em breve.
A conversa ocorreu na manhã da data em que foi deflagrada a Operação Sodoma, que levou Nadaf e o ex-secretário de Estado de Fazenda, Marcel de Cursi, à prisão. Dias depois, também foi preso o ex-governador Silval Barbosa (PMDB).
Nadaf é acusado de ser um dos líderes de suposto esquema que teria lucrado R$ 2,6 milhões, entre 2013 e 2014, por meio de cobrança de propina para a concessão de incentivos fiscais pelo Prodeic (Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial de Mato Grosso).
“Vão me destroçar... Nunca te pedi, reza por mim... As informações que chega (sic) são horríveis”, disse ele a Narjara de Barros, apontada pela Polícia Civil como tendo um “relacionamento amoroso” do ex-secretário.
Poucas horas depois da conversa, no período da tarde, a polícia prendeu Nadaf na sede da Federação do Comércio de Mato Grosso (Fecomércio), então presidida por ele.
“Essas afirmativas levantam suspeitas de que Pedro possivelmente teria alguma informação acerca de determinado fato que estava para acontecer, sendo que neste mesmo dia (15/09/2015) ele foi preso na Operação Sodoma, trazendo fortes suspeitas de que ele poderia estar recebendo informações acerca da investigação”, diz trecho do relatório.
Conversa com ex-mulher
No dia anterior à operação, às 16h46, segundo o relatório policial, Nadaf também mandou mensagens via WhatsApp para sua ex-mulher, a psicóloga Geiziane Rodrigues Antelo.
A conversa teria ocorrido pouco depois do suposto encontro de Nadaf com o delegado Anderson Garcia, suspeito de ter vazado detalhes da Operação Sodoma ao ex-secretário.
“Fica tranquila, vai dar tudo certo. Tudo passa. Vai ser duro, mas vou superar”, diz trecho do diálogo.
Para a Polícia Civil, as conversas “levantam suspeitas de que Pedro estaria esperando algo acontecer com ele”.
Passagem só de ida
Outro indício da ciência de Nadaf sobre a operação a ser deflagrada foi uma mensagem de WhatsApp de uma funcionária da Fecomércio para um contato de nome “Cris Tour”, “dizendo a esta que emita uma passagem (aérea) para Pedro Nadaf de Cuiabá a Brasília para o dia 16/09, enfatizando que esta seria somente de ida”.
“Este fato demonstra que Pedro Nadaf tinha a intenção de deixar a cidade sem uma data específica para sua volta”, diz a Polícia Civil.
Veja a íntegra das conversas de Nadaf com Narjara Barros e Geiziane Antelo:
A denúncia
Na denúncia, Nadaf é acusado de ter exigido do empresário João Batista Rosa (delator do esquema) a renúncia de um crédito de R$ 2,5 milhões em favor do grupo criminoso, além de ter exigido propinas mensais para manter as três empresas do delator em programa que concedia benefícios fiscais.
Segundo a promotora Ana Bardusco, o ex-secretário utilizava de sua condição de presidente da Federação do Comércio de Mato Grosso (Fecomércio) para manter relações estreitas e ganhar a confiança do empresariado mato-grossense, o que era de interesse da organização criminosa.
A promotora destacou que, de 2011 a 2014, boa parte dos 246 cheques pagos pelo delator João Batista a título de propina foi entregue pessoalmente a Nadaf, na sede da Fecomércio.
De acordo com a denúncia, o término da gestão Silval Barbosa não impediu Nadaf de dar prosseguimento ao esquema, sendo que apenas mudou o local de onde operava os alegados crimes.
“Necessário reconhecer que ao deixar a administração pública a organização criminosa transferiu o seu “balcão de negócios” da sede do governo estadual para a sede da Fecomércio, fato que fica evidenciado nas reuniões realizadas naquele ambiente pela organização criminosa, como ilustram os contatos com o empresário João Rosa, que constantemente era convidado a se reunir com Pedro Nadaf e Marcel Cursi naquela sede”, disse Ana Bardusco.
Outra prova do “uso criminoso do espaço físico da Fecomércio” é o fato de a diretora financeira da federação, Karla Cintra, ser considerada o “braço direito” de Nadaf e, em tese, ter colaborado para a lavagem do dinheiro recebido de propina.
“Veja, desse modo, que além de ser responsável por controlar os pagamentos da propina realizada por intermédio da NBC [empresa da qual era sócia], tinha tarefa similar em relação aos cheques diretamente recebidos por Pedro Nadaf. A integração de ações e vontades ente ela e Pedro Nadaf é inquestionável e, foi por intermédio dele, que aderiu a organização criminosa”, afirmou a promotora.
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