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27.08.2018 | 18h30 Tamanho do texto A- A+

PM: "Paulo prometeu ajuda financeira para blindar governador”

Gerson Corrêa prestou novo depoimento no Fórum de Cuiabá na segunda-feira (27)

Alair Ribeiro/MidiaNews

O cabo PM Gerson Correa presta novo depoimento nesta segunda-feira (27)

O cabo PM Gerson Correa presta novo depoimento nesta segunda-feira (27)

THAIZA ASSUNÇÃO E CÍNTIA BORGES
DA REDAÇÃO

O cabo da PM Gerson Corrêa, réu da ação penal que apura um esquema de grampos operado em Mato Grosso, afirmou que recebeu proposta do ex-secretário chefe da Casa Civil Paulo Taques para que blindasse, em seus depoimentos, o governador Pedro Taques (PSDB).

 

"Quero informar que, enquanto eu estive preso no CCC [Centro de Custódia de Cuiabá], recebi a promessa do senhor Paulo Taques, por duas vezes, de ajuda financeira para arcar com os custos do processo. Ele me pediu para que [o processo] não chegasse no Pedro Taques", afirmou. 

 

 A declaração foi feita durante o reinterrogatório do PM nesta segunda-feira (27), na 11ª Vara Militar do Fórum de Cuiabá. 

  

Ele depôs pela primeira vez no dia 27 de julho, uma sexta-feira. O depoimento começou às 23h50 e só foi finalizado às 5h20 de sábado (28).

 

Naquela ocasião, o cabo confessou que o esquema de interceptações clandestina foi financiado por Paulo Taques, primo do governador Pedro Taques. Ele ainda afirmou que o governador do Estado tinha conhecimento das escutas ilegais.

 

Grampos na "Ouro de Tolo" (atualizada às 14h30)

 

O depoimento teve início às 14h. No início, o cabo afirmou que houve "barriga de aluguel" na operação Ouro de Tolo.

 

A operação, deflagrada em 2015 pelo Grupo de Atuação e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), teve como um dos alvos a ex-primeira-dama do Estado, Roseli Barbosa. 

 

O esquema de “barriga de aluguel” funciona quando números de pessoas sem envolvimento em crime são listados como sendo de alvos de investigações policiais.

 

Segundo Gerson, seis números foram inseridos em nome de Roseli no relatório de interceptação, entre eles, o do governador Silval Barbosa, além dos filhos do casal: Rodrigo Barbosa, Ricardo Barbosa e Carla Barbosa, que não eram investigados.

 

"Na ocasião [primeiro interrogatório] me perguntaram se, no relatório da operação Ouro de Tolo estavam os nomes do filhos do Silval [Barbosa] e da Roseli e eu neguei. Mas eu me equivoquei. Eu encontrei o relatório e, de fato, tinha o número dela e outros cinco números", disse. 

 

Eu quero ratificar: o dono disso aqui não sou eu nem o coronel Zaqueu [Barbosa]. O dono disso aqui é o Paulo Taques e o seu primo, Pedro Taques

“Antes mesmo de iniciar a interceptação a gente sabia que a Roseli estava em Cuiabá e o Silval em São Paulo. Todos os alvos eram decididos em conjunto. O que eu não encontrei foi a ordem de serviço. Quando foi feito o relatório que culminou na operação nós não tínhamos certeza de que todos esse números eram dela”, frisou.

 

Trama no Gaeco (atualizada às 14h45)

 

O cabo revelou uma irregularidade cometida em uma investigação do Gaeco para apurar uma suposta trama de atentado contra a então juíza Selma Arruda, em 2015.

 

Segundo ele, foi criada uma “história de cobertura” com anuência do então coordenador do grupo, promotor de Justiça Marco Aurélio, e da própria magistrada para interceptar os supostos mentores do atentado.

 

“Em 2015, Selma foi até o Gaeco falar sobre as ameaças que havia sofrido. O promotor Marco Aurélio me chamou na sala, narrou que ela estava sofrendo ameaças etc. Depois fui até o gabinete da Selma dizendo que Marco Aurélio havia me procurado e pedido para ir até lá", disse. 

 

"Ela narrou que tinha conhecimento que uma pessoa da família de Antonio Carlos Milas tinha recebido algumas pessoas em uma fazenda, dentre elas o deputado Riva. E essas pessoas começaram a tecer comentários sobre ela, que ela era a cabeça do Gaeco”, relatou.

 

"De imediato levei essas informações ao Marco Aurélio, que abriu investigação de maneira anônima. Foi então que foram incluídos os número do senhor Filadélfio dos Reis Dias, Silval Barbosa e Antônio Barbosa. Eles não tinham nada a ver com a história. Nós inserimos os três no bojo dessa investigação”, afirmou.

 

Promessa de Paulo Taques (atualizada às 14h50)

 

O cabo afirmou que, enquanto estava preso no Centro de Custódia de Cuiabá (CCC), recebeu, por duas vezes,  promessa do ex-secretário Paulo Taques para arcar com os custos do processo que responde.

 

"Eu quero ratificar: o dono disso aqui não sou eu nem o coronel Zaqueu [Barbosa]. O dono disso aqui é o Paulo Taques e o seu primo, Pedro Taques”,  falou. 

 

"Quero informar que, enquanto eu estive preso no CCC, recebi a promessa do senhor Paulo Taques, por duas vezes, de ajuda financeira para arcar com os custos do processo. Ele me pediu para que [o processo] não chegasse no Pedro Taques", afirmou. 

 

Questionado, o cabo detalhou os dois encontros que teve com o ex-secretário. 

 

"Nós estávamos presos. [ a conversa] Foi tête-à-tête. Na primeira conversa, ele foi direto e perguntou se eu estava precisando de ajuda. Eu respondi que não", disse

 

Alair Ribeiro/MidiaNews

Cabo Gerson Correa

O cabo Gerson Correa na 11ª Vara Criminal de Cuiabá

"Já na segunda ocasião, ele me ofereceu advogado do escritório dele e eu neguei. Mas aceitei a ajuda financeira. Ele disse que o [ coronel Airton] Siqueira iria procurar minha esposa, mas por graça de Deus ele nunca procurou minha esposa para ajudar", explicou. 

 

Empréstimo de Lesco (atualizada às 15h20)

 

O cabo ratificou o depoimento sobre o ex-secretário-chefe da Casa Militar, coronel Evandro Alexandre Ferraz Lesco.

 

Gerson havia dito que Lesco bancou a equipamentos de interceptação telefônica. No entanto, segundo ele, o dinheiro foi apenas emprestado pelo coronel, que não tinha conhecimento do compra da ferramenta de escutas.

 

“Eu afirmei que não era empréstimo, mas foi empréstimo. Apesar de ser empréstimo, eu não vou pagar porque não tenho condições”, disse.

 

Conforme Gerson, porém, Lesco pagou as duas primeiras parcelas do local da central de escutas. 

 

“No início de tudo teve montantes que tivemos que pagar locação do imóvel. As duas primeiras mensalidades do aluguel foram dadas pelo coronel Lesco”, afirmou.

 

Ainda no depoimento, Gerson assumiu que recebeu R$ 50 mil das mãos de Paulo Taques num restaurante na saída para Chapada.

 

"Não teve mala. O dinheiro foi dado enrolado num papel. Em notas de R$ 50 e R$ 100", afirmou.

 

Correa garante que nunca tratou diretamente com o governador Pedro Taques sobre escutas ilegais.

 

"Único dia que fui na casa do governador Pedro Taques foi para fazer a mudança dele em 2016. Eu estava na Casa Militar e uma das competências é resguardar a segurança do governador", lembrou.

 

"Juiz se livrou de organização criminosa" (atualizada às 15h50) 

 

O juiz se livrou de cair como vítima do esquema porque não fiz nenhum relato sobre suposta organização criminosa naquela cidade. Se fizesse, novos números seriam inseridos em relatórios, que seriam deferidos por esse juiz

Segundo Gerson, o juiz Vladimir Perri,  da 1ª Vara Criminal de Rondonópolis, escapou de ser usado pela organização criminosa em meados de 2015.

 

"Fui convidado pelo coronel Siqueira para ir conversar com o juiz Wladymir Perri, que estava interessado em ajudar a Polícia Militar a “pegar” policiais corruptos na cidade", revelou. 

 

"O juiz se livrou de cair como vítima do esquema porque não fiz nenhum relato sobre suposta organização criminosa naquela cidade. Se fizesse, novos números seriam inseridos em relatórios, que seriam deferidos por esse juiz”, contou.

 

Ânimos exaltados (atualizada às 16h) 

 

O cabo Gerson Correa e o promotor de Justiça Allan Sidney do Ó Souza protagonizaram uma breve discussão na audiência.

 

Tudo começou quando o promotor disse que o cabo inclusive grampeou a própria mulher, usando o termo “pé de pano”, sugerindo a existência de um amante.

 

No primeiro depoimento o cabo revelou que grampeou a mulher dele sem querer, e não chegou a ouvi-la.

 

“O senhor está extremamente enganando em relação à minha mulher e em falar em 'pé de pano'”, respondeu o cabo, alterado.

  

Depois de uma breve discussão, o cabo pediu desculpas pela situação. 

 

Entrega de pen drive a Paulo Taques (atualizada às 16h10) 

 

Questionado, o cabo afirmou que imagina ter recebido cerca de R$ 85 mil em espécie da organização criminosa para operar os grampos.

 

"Eu não prestava conta pra ninguém. Apenas falava dos resultados", disse.

 

Sobre os encontros com Paulo Taques, o policial respondeu que chegou a entregar pen drive com as escutas ilegais para Paulo Taques na Casa Civil. 

 

"Encontro pra tratar sobre isso ´[grampos] não. Só das vezes que entreguei o pendrive. Mas já encontrei com ele na casa do coronel Siqueira em um evento de confraternização.No primeiro encontro fui com coronel Lesco. Depois fomos pro escritório, contamos e saímos", disse. 

 

Promotor fez auditoria em sistema de interceptação (atualizada às 16h20)

 

Quando começa errado termina errado. Quando a juíza Selma vai para o Gaeco para falar disso, já está errado. Ela deveria fazer ocorrência, conduzir de outra maneira. Ela devia ter alguma confiança no Gaeco

Sobre as interceptações contra Silval e Roseli na Ouro de Tolo, o cabo garante que a ordem não partiu do coronel Zaqueu, mas dos promotores de Justiça Samuel Frungilo e Marco Aurélio.

 

“Nunca falei pro coronel Zaqueu de nada do que acontecia no Gaeco. Mas é importante esclarecer que quando chegou ao conhecimento do ex-secretário de Estado de Segurança Mauro Zaque [os grampos], eu tenho absoluta certeza que ele levou ao conhecimento do promotor Marco Aurélio. Por que eu sei disso? Porque o promotor Marco Aurélio começou a fazer auditoria no sistema guardião”, revelou.

 

“Se o promotor Marco Aurélio falasse tudo que sabia, isso teria vindo à tona em 2015 e eu não iria segurar essa bronca sozinho”, disse.

 

Gerson reitera seu depoimento e afirma que recebeu ordem do promotor Marco Aurélio para criar uma história para subsidiar a investigação das ameaças contra da juíza Selma.

  

“Quando começa errado termina errado. Quando a juíza Selma vai para o Gaeco para falar disso, já está errado. Ela deveria fazer ocorrência, conduzir de outra maneira. Ela devia ter alguma confiança no Gaeco”, afirmou. 

 

"Documentos da denúncia saíram do meu computador" (atualizada às 16h35)

 

O cabo revelou que os documentos contidos na denúncia dos grampos que foi entregue ao secretário Mauro Zaque saíram do seu computador.

 

Ele, no entanto, disse não saber quem copiou.

 

“Os documentos que chegaram ao doutor Mauro Zaque foram copiados do meu computador de dentro do Gaeco”, disse.

  

“O meu computador era utilizado pra fazer relatórios do Gaeco e também os trabalhos da PM. Daquela maneira, que apareceu ali foi do meu computador. Se fosse de outro computador não estaria daquela maneira. Foi do meu computador, mas eu não sei quem copiou”, afirmou. 

 

Vazamento de aúdios sigilosos (atualizada às 17h)

 

Com relação ao vazamento de áudios sigilosos da Operação "Ouro de Tolo", o cabo afirmou que a conversa entre Silval e o desembargador Marcos Machado "vazou" de dentro do Gaeco.

 

"Nós, da Polícia Militar, por várias vezes discutíamos sobre vazamentos de áudios sigilosos. Nessa operação 'Ouro de Tolo', todas as conversas que eram relevantes eram gravadas e levadas para o promotor Marco Aurélio", disse. 

 

"Esses áudios que foram vazados, em especial a do Silval e do Marcos Machado, foi passado pelo promotor Marco Aurélio. Eu não tenho dúvida de onde saiu esse áudio", afirmou.

 

A audiência foi encerrada às 17h20. 

 

 

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3 Comentário(s).

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Rafael Souza Costa  29.08.18 07h58
A esposa de César não basta ser honesta, tem que parecer honesta. Esta bem claro que esse governo que começou com uma expectativa grande esta terminando como uma das maiores decepções políticas deste estado. Infelizmente o Pedro Taques teve de tudo as mãos para ser o melhor governador de Mato Grosso, contudo se não se envolveu(o que eu duvido muito) se deixou envolver em escandalos na saúde, na educação, na segurança entre outros. O estado hoje esta numa instabilidade politica muito por conta da falta de política do governador. Ao governador não basta ser governador, tem que estar governador. Greve Geral, escandalos de corrupção, práticas nada ortodoxas na politica tributária, troca de mais de 6 secretários de fazenda. Inchamento da máquina pública com concursos que para mim não eram necessários. Enfim chega-se a um fim de governo que parece que acabou ano passado. Só espero a apuração dos fatos e a punição de todos que estejam envolvidos. Principalmente se tiverem culpados no MPE, estes devem ser punidos exemplarmente.
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Jefferson Souza  27.08.18 21h17
Cada hora esse aparece com uma nova história. Fica parecendo que tem alguém instruindo ele pra falar somente o que todos querem ouvir. Além de tudo, não passa confiança nem como civil e muito menos como militar.
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Albanir berigo  27.08.18 18h00
Acredito mais em Pedro taques, do que nesse cabo da polícia militar.
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