Cuiabá, Domingo, 6 de Julho de 2025
GRAMPOS
28.07.2018 | 10h25 Tamanho do texto A- A+

Cabo: “Meu maior erro foi não ter dito não para o coronel Zaqueu”

Gerson Correa afirmou que Paulo Taques tinha conhecimento e financiou o esquema de escutas ilegais

Alair Ribeiro/MidiaNews

O cabo Gerson Correa, durante depoimento no Fórum de Cuiabá

O cabo Gerson Correa, durante depoimento no Fórum de Cuiabá

THAIZA ASSUNÇÃO E CÍNTIA BORGES
DA REDAÇÃO

O cabo da PM Gerson Correa, réu da ação penal que apura esquema de grampos operado em Mato Grosso, confessou ter interceptado ilegalmente adversários políticos do governador Pedro Taques (PSDB) a mando do ex-comandante da corporação, coronel Zaque Barbosa.

 

Segundo o cabo, o ex-secretário Paulo Taques – atualmente preso por um esquema de propina do Detran - tinha conhecimento e financiou as escutas ilegais.

 

A declaração foi feita durante depoimento na madrugada deste sábado (28), ao juiz Murilo Mesquita, da 11ª Vara Militar do Fórum de Cuiabá, na ação penal que apura os crimes militares relativos ao caso.

 

Os depoimentos referente a ação penal tiveram início às 14h de ontem e só encerrou por volta de 5h30 deste sábado (28). Gerson falou por cerca de cinco horas.

 

Além dele e do ex-comadante Zaqueu Barbosa,  também são réus na ação penal, os coronéis Evandro Lesco, Ronelson Barros e Januário Batista.

 

O cabo iniciou o depoimento dizendo que desde o início do processo, buscou a “verdade real dos fatos”. “Se eu errei ou não, não sou eu quem devo julgar, mas vossas excelências”, afirmou.

 

Ele contou que entrou na Polícia Militar em outubro de 2013 e, em seguida foi chamado para trabalhar no  Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado).

 

“Atuei sempre na interceptação telefônica do Gaeco, foram mais de 200 operações. Depois fui convidado a Casa Militar e fiquei lá até ser preso”, disse.

 

Nesse momento tomei conhecimento do plano de fundo da ação. Porque o senhor Paulo Taques era coordenador da campanha de Pedro Taques. Mas como tinha entrado no jogo, continuei

No final de julho de 2014, o cabo destacou que recebeu ligação do coronel Zaqueu, então subchefe de Estado Maior, que o chamou para ir ao comando da PM.

 

“Ele me fez um explanação dizendo que queria fazer uma limpeza na instituição e de pronto me convidou pra participar desse processo. Me apresentou duas placas de interceptação. E disse que precisava implementar a interceptação no âmbito da polícia militar de Mato Grosso", afirmou.

 

Gerson afirmou que Zaqueu lhe apresentou placas de escuta Wytron, que o coronel contou ter conseguido com um amigo, sem revelar quem.

 

“Disse que tinha viabilidade técnica, mas que tinha um custo para que isso acontecesse”, lembrou o cabo.

 

Gerson contou que Zaqueu lhe pediu para fazer um projeto de interceptação no âmbito da PM e também encontrar um espaço fora da corporação para montar o equipamento e realizar as escutas.

 

“Eu fui atrás de uma sala comercial pra alugar. Excelência tudo que fiz foi por determinação do 03 da Polícia Militar, coronel  Zaqueu. E foi aí que aluguei a sala no edifício Master Cuiabá. No contrato disse que era para contabilidade. Isso de fachada. A Polícia Militar não pode locar imóvel. Aluguei no meu nome”, afirmou.

 

“Levei a informação pro coronel Zaqueu a necessidade de dinheiro para locação, e ele me disse que entraria em contato comigo depois e me informaria quem pagaria esses aluguéis. Dias depois, ele me chamou no Comando Geral e disse que eu e o coronel Evandro Lesco nos encontraríamos com a pessoa que iria arcar com os aluguéis”, relatou.

 

Encontro com Paulo Taques

 

Gerson contou que foi com Lesco em agosto de 2014 em um restaurante chamado Reserva, localizado na estrada de Chapada dos Guimarães. Lá, encontrou com Paulo Taques que informou que iria arcar com as despesas dos grampos.

 

“Nesse momento tomei conhecimento do plano de fundo da ação. Porque o senhor Paulo Zamar Taques era coordenador  da campanha de Pedro Taques. Mas como tinha entrado no jogo, continuei”, disse.

 

Segundo Gerson, Taques lhe entregou R$ 50 mil em espécie dentro do seu escritório.

 

A partir daí, segundo Gerson, ele o  cabo PM Euclides Luiz Torezano sistema de escutas dentro da sala locada.

 

“Eu só falava pro Torezan o que convia. Ele não sabia de onde vinha o dinheiro”, disse Gerson.

 

As escutas ilegais

 

Alair Ribeiro/MidiaNews

Cabo Gerson

Cabo Gerson Correa chora durante audiência no Fórum de Cuiabá

Os trabalhos na sala de interceptação começaram, conforme Gerson em setembro de 2014 com interceptações de policiais que estavam em desvio de condutas.

 

Ele citou que, na semana que antecedeu a eleição de outubro daquele ano, no entanto, recebeu do coronel Zaqueu mais uma leva de números, de figuras conhecidas em Cuiabá como os advogados José do Patrocínio e José Antônio Rosa, todos ligados à campanha política daquele ano.

 

O objetivo, segundo o cabo, era pegar um flagrante de crime eleitoral.

 

“Eu juro que naquela dia não dormi. Ponderei todas as situações. Na minha história, eu nunca entrei num serviço pra não terminar. Meu maior erro foi não falar não para o coronel Zaqueu”, lamentou.

 

“Eu estava convicto que iria realizar um serviço pra Polícia Militar. Eu não estou confessando nada. Estou só relatando o que me foi dito naquela ocasião”, disse.

 

Gerson nega ter ouvido as ligações dessas pessoas. Ele explica que gravava as ligações em pendrive e levava para Zaqueu.

 

 “Eu não ouvi nenhum deles. A única coisa que fiz foi gravar em um pendrive para ele. Mas não ouvi nada. No sábado, véspera de eleição, entreguei um pendrive ao coronel Zaqueu. Nunca me disse o destino do pendrive, mas lógico que sabia que alguém iria escutar”, disse.

 

“Indiretamente você sabe que os interesses não eram do coronel Zaqueu. Qual o interesse do coronel em interceptar essas pessoas? É claro  que era do Paulo Taques e do governador, eu não tenho dúvidas”, afirmou.

 

Sistema Sentinela 

 

Coforme Gerson, o sistema Sentinela foi usado no caso dos grampos após o sistema Wytron queimar. 

 

O sistema foi pago com o resto dos R$ 50 dado por Paulo Taques para a implantação da sala com sistema Wytron, R$ 24 mil de Lesco, e ao final, mais R$ 34 mil dado no Palácio Paiaguás em mãos por Paulo Taques a Gerson. 

 

“Se ele (Lesco) tomou os R$ 24 mil como empréstimo, ele tomou um cano porque eu nunca vou pagar. Falei que era para financiar o projeto”, afirmou.

 

Com o montante eles financiaram toda a criação e evolução do sentinela. 

 

O programa fez com que eles pudessem fazer as escutas de modo remoto, já que no sistema Wytron eles só trabalhavam da sala comercial.

 

Destruição de provas

 

Em outubro de 2015, Gerson recebeu ordem de Zaqueu para interromper todos os trabalhos porque havia ocorrido um vazamento.

 

“Encerramos expediente, procurei Torezan e falei: encerra tudo. O projeto está interrompido por determinação do comandante geral. Na hora não fiquei sabendo o motivo, fiquei sabendo depois”

 

Conforme ele,  Zaqueu lhe contou que o secretário de Estado de Segurança na época, Mauro Zaque havia descoberto o esquema e estava com um dossiê pronto sobre o caso.

 

“Durante a investigação do caso na Polícia Civil, eles [delegados] queriam por que queriam o HD, mas eles não vão achar. Eu recebi ordem para destruir o HD e eu destruí”, afirmou.

Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).




Clique aqui e faça seu comentário


COMENTÁRIOS
2 Comentário(s).

COMENTE
Nome:
E-Mail:
Dados opcionais:
Comentário:
Marque "Não sou um robô:"
ATENÇÃO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. Comentários ofensivos, que violem a lei ou o direito de terceiros, serão vetados pelo moderador.

FECHAR

Marcos  30.07.18 10h01
Infelizmente corporativismo é uma praga que acaba com esse país emergente falido.
13
1
Marcos Samaro  29.07.18 17h19
Marcos Samaro, seu comentário foi vetado por conter expressões agressivas, ofensas e/ou denúncias sem provas