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REJUVENESCIMENTO
01.07.2017 | 19h13 Tamanho do texto A- A+

“Não podemos entrar na paranoia do paciente”, diz dermatologista

Karin Krauze Boneti faz um alerta sobre os riscos provocados pela busca da beleza a qualquer preço

Alair Ribeiro/MidiaNews

A médica dermatologista Karin Krauze Boneti, diretora da clínica Frémissant, em Cuiabá

A médica dermatologista Karin Krauze Boneti, diretora da clínica Frémissant, em Cuiabá

THAIZA ASSUNÇÃO
DA REDAÇÃO

É fato. Mulheres e homens estão cada vez mais interessados em uma aparência impecável. Mas será que vale tudo pela beleza? Até que ponto as intervenções contra certos defeitos são consideradas saudáveis?

 

Para a médica dermatologista Karin Krauze Boneti, diretora da clínica Frémissant, em Cuiabá, a busca pela beleza é algo natural - o problema é quando as pessoas insistem na perfeição e cometem exageros, como no uso de botox, não respeitando o período de intervalo entre uma sessão e outra, por exemplo.

 

Conforme a médica, alguns pacientes são tão paranoicos que conseguem até mesmo convencer os especialistas a fazerem o procedimento, ou procuram outros profissionais fora da área da Dermatologia.

 

“Quando é bem indicado, o procedimento fica com um aspecto bonito, natural. Mas quando excede, acaba deformando as características ideais da pessoa. O médico não pode entrar na paranoia do paciente. O médico é quem tem que conduzir o paciente, não o contrário”, disse Karin Krauze.

 

Na entrevista, a médica que é especializada em Dermatologia pelo Instituto de Dermatologia Prof. Rubem David Azulay, da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, também comentou sobre os riscos do excesso de exposição ao Sol, além dos procedimentos de bichectomia e rejuvenescimento íntimo.

 

Leia os principais trechos da entrevista: 

  

MidiaNews - Cuiabá é uma cidade com temperaturas altas, tempo seco em boa parte do ano e Sol inclemente. Morar aqui faz mal para a pele?

 

Karin Krause – Não diria que faz mal morar em Cuiabá, mas morar em qualquer parte do Mundo onde tenha uma temperatura mais alta, sem uma proteção adequada, faz mal. As pessoas precisam ter consciência de que a exposição ao Sol emite radiação ultravioleta e o excesso pode provocar câncer de pele.

 

MidiaNews - Temos que usar protetor solar nos 365 dias do ano?

 

Karin Krause – Sim! É uma prática que tem que ser adotada por todo mundo. É preciso ter a consciência de que a exposição ao Sol não é ruim, desde que a gente se proteja adequadamente. Porque as queimaduras do Sol de maneira excessiva são fatores de risco para desenvolver um câncer de pele.

 

MidiaNews - Não existe uma solução caseira e mais barata?

 

As pessoas precisam ter a consciência de que essa exposição ao sol não é ruim, desde que a gente se proteja adequadamente, porque as queimaduras do Sol de maneira excessiva são fatores de risco para desenvolver um câncer de pele

Karin Krause - O que dá para diminuir a exposição ao Sol são os protetores de barreira que a gente fala, como bonés, sombrinhas e a própria roupa. Então se a pessoa não tem condições de investir em um protetor, pode usar essas vestimentas que fazem uma barreira física.

 

MidiaNews – O principal risco de se expor demais ao Sol é o câncer de pele ou existem outras doenças? 

 

Karin Krause – Acho que é o mais grave. A gente tem basicamente três tipos de câncer de pele, que são o carcinoma basocelular (CBC), carcinoma espinocelular (CEC) e o melanoma. Em ordem crescente de fator de risco, o melanoma é o mais agressivo e ele se espalha pelo corpo. Então pode ser fatal. Acho que nos termos de gravidade, é sim o câncer de pele a maior preocupação dos dermatologistas.

 

MidiaNews - Quem deve ficar mais atento ao problema? Há distinção entre homens e mulheres ou a doença não escolhe sexo?

 

Karin Krause - Na verdade todo mundo tem que ficar atento. Claro que há aquelas pessoas que têm mais pré-disposição para desenvolver o câncer de pele. Mas não é pelo sexo, e sim pelo fototipo, que é o tipo de pele de cada pessoa.

 

A pessoa de pele clara tem mais risco de desenvolver o câncer de pele do que uma pessoa mais morena, porque sempre quando se expõe ao Sol se queima, ficando toda vermelha.

 

E em Mato Grosso existem muitas pessoas que têm essa pré-disposição, devido à grande quantidade de sulistas que vieram para cá. Então, o nosso Estado tem muitas pessoas com câncer de pele. E elas só descobrem quando a doença já está em um estado avançado.

 

A gente fala que não se deveria morrer nem de câncer de pele, nem de câncer de colo de útero, nem de câncer de próstata. E hoje a gente vê que a incidência é altíssima, porque as pessoas não trabalham com a prevenção, não se cuidam. E quando são diagnosticadas, já não têm mais chance de cura. Câncer de pele é isso: se tiver uma consciência de usar o protetor solar todos os dias, evitar a exposição ao Sol nos horários de pico - de 10h às 16h - é totalmente prevenível. 

 

E também é necessário fazer o autoexame. Assim como o câncer de mama, o câncer de pele também tem o autoexame. Quando a pessoa tem uma pinta, por exemplo, é preciso ficar atenta à regrinha chamada A, B, C, D, E. A de assimetria (um lado difere muito do outro); B de borda irregular (os contornos são irregulares, há reentrâncias para dentro e para fora); C de cor  (a coloração é irregular); D de diâmetro  (acima de 6 milímetros, o risco de melanoma aumenta); e E de estranho (refere-se ao crescimento acelerado). Caso a pessoa perceba alguma dessas irregularidades, é necessário procurar um dermatologista para retirar a pinta.

 

MidiaNews – A senhora mencionou que Mato Grosso tem muitas pessoas que contraem o câncer de pele. Há uma estimativa?

 

Karin Krause - Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), somente em 2016, cerca de 4 mil mato-grossenses foram diagnosticados com câncer de pele no Estado. E a maioria desses casos são homens brancos com descendência da região Sul do País e que trabalham na rua como vendedores ambulantes ou na agricultura.

 

MidiaNews -  O bronzeamento à beira da piscina é algo totalmente não recomendado?

 

Karin Krause – Na verdade não é que a exposição ao Sol seja ruim. Ruim é o excesso. A exposição é importante até para a produção de Vitamina D. Mas é bom evitar os horários de pico, quando a radiação é maior. Então, se for se expor ao Sol, tem que ser antes das 10h e depois das 15h. E quando se expor, sempre usar um protetor solar.

 

Alair Ribeiro/MidiaNews

Karin Krause Boneti Dermatologista

"Na verdade não é que a exposição ao Sol seja ruim. Ruim é o excesso"

MidiaNews - Os protetores solares têm fatores de proteção que vão até 100. Como a pessoa faz para saber qual o fator ideal para sua pele?

 

Karin Krause – Quanto maior for o fator, mais tempo você pode ficar no Sol sem reaplicar o protetor. As pessoas têm uma ideia errada do que significa o fator. Não é que o 30 protege 30% e o 100 protege 100%. O 30 protege 96% da radiação e o 100 protege 98%. Com protetor solar com fator mais baixo, a pessoa tem que reaplicar de duas em duas horas. E, com o mais alto, a cada quatro horas.

 

MidiaNews - E como escolher o protetor ideal para cada pessoa?

 

Karin Krause - Vai de acordo com o fototipo. Se é uma pele mais oleosa, a gente tende a recomendar protetores com fator mais baixo, porque, para aguentar mais tempo no Sol, sem queimar, os fabricantes acrescentam mais aditivos no protetor, o que o deixa mais pesado, provocando assim mais oleosidade na pele. Já as pessoas com uma pele mais seca podem usar os protetores com fatores mais altos.

 

MidiaNews - Que tipo de alimentação a senhora recomenda para quem quer manter  a pele saudável?

 

Karin Krause – Diariamente a gente produz os radicais livres, que são causados pelo estresse, exposição ao Sol, poeira, poluição. Então a gente sempre indica uma alimentação rica em antioxidantes que são encontrados nas frutas e verduras, que acabam inibindo um pouco da ação dos radicais livres, além de serem ricas em nutrientes que são essenciais para a pele e o cabelo. 

 

Então basicamente é o que a gente já sabe: uma dieta equilibrada com frutas, verduras e proteínas, evitando açúcar, sal, arroz e farinha.

 

MidiaNews -  Nos últimos anos, temos visto a popularização do botox. Quando que é recomendado seu uso e quais sãos os efeitos colaterais?

 

Karin Krause – É importante deixar claro que o botox é uma ferramenta maravilhosa para evitar rugas de expressão, mas ele tem que ser usado de forma correta.

 

E hoje a gente vê até outras classes profissionais aplicando botox, às vezes de forma inadequada, porque não respeitam o intervalo entre uma aplicação e outra, ou aplicam em lugares que não podem ser aplicados. Se o profissional não respeita o intervalo para aplicar o botox no paciente, pode causar um efeito vacina, ou seja, a substância não funcionará mais. E se aplica em lugares errados, a pessoa pode ter problemas de assimetria facial, às vezes pode ficar com olho mais baixo, enfim...

 

MidiaNews – Qual o intervalo ideal entre uma aplicação e outra?

 

Karin Krause - De cinco a seis meses.

 

MidiaNews - Recentemente a senhora falou da chegada do ácido deoxicólico, que trata o queixo duplo.  Este produto já está disponível e qual sua eficácia?

 

Karin Krause – O ácido deoxicólico são injeções que a gente aplica na famosa papada, que por tendência genética ou por excesso de peso acaba acumulando gordura. São quatro sessões com intervalo quinzenais, em que a gente dá de 15 a 20 pontinhos dessa substância na gordura da papada e ela inflama a célula da gordura para que a gordura seja destruída e diminua o tamanho daquela região.

 

MidiaNews – Com relação a bichectomia, a senhora é contra ao a favor?

 

Karin Krause – Eu sou um pouco contra porque, quando o paciente está novo, o procedimento até fica legal. Mas com o tempo, essa perda da gordura vai gerar um envelhecimento maior, porque essa gordura está sustentando a pele. E se você tira a gordura, essa pele cede, fica mais flácida. O certo é não tirar e sim fazer uma projeção e área de sombra para disfarçar o volume dessa região.

 

MidiaNews – Como funciona o rejuvenescimento íntimo?  Ainda há um tabu com relação a esse tratamento?

 

Karin Krause -  Ainda há um tabu sim, mas as mulheres têm cada vez mais procurado o rejuvenescimento íntimo. O procedimento é simples: consiste em colocar laser com ponteiras dentro da vagina. Ele age recuperando o tônus destes músculos e regenerando as células e glândulas da vagina. Ele trata a flacidez íntima e melhora a incontinência urinária, porque, com o passar da idade, a musculatura cede e por conta disso a mulher desenvolve muito isso problema de incontinência urinária.

 

MidiaNews - A senhora não acha que existe certo exagero no uso de técnicas para rejuvenescimento? Que as pessoas estão tendo dificuldade de aceitar a idade?

 

Karin Krause - Acredito que as pessoas têm buscado de forma excessiva essas técnicas, mas também cabe ao médico dar essa orientação. Os médicos são as pessoas mais indicadas para saber se pode fazer tal procedimento ou não. E as vezes os próprios médicos caem nessa cilada do paciente ficar insistindo demais.

 

Quando é bem indicado, o  procedimento fica com um aspecto bonito, natural. Mas quando excede, acaba deformando as características ideais da pessoa. O médico não pode entrar na paranoia do paciente. O médico é quem tem que conduzir o paciente, não o contrário.

 

Alair Ribeiro/MidiaNews

Karin Krause Boneti Dermatologista

"Eu contra a bichectomia porque com o tempo essa perda da gordura vai gerar um envelhecimento"

Por isso que os procedimentos ficaram tão estigmatizados. Tem pessoas que chegam aqui no consultório morrendo de medo de fazer um botox ou um preenchimento porque acha que vai ficar mumificado e aí a gente tem que explicar.

 

MidiaNews - Como está a procura deste tipo de tratamento por parte dos homens? A impressão que dá que é cresceu muito nos últimos anos.

 

Karin Krause – Com certeza. Na primeira consulta normalmente ele vem com a mulher porque ela começa a se cuidar e o homem passa a ver que está ficando melhor. E a mulher o traz. Depois, ele mesmo, por si só, começa a gostar e procurar sozinho.

 

MidiaNews – Quais são os principais tipos de tratamento que esses homens procuram?

 

Karin Krause – O principal é o botox para retirar rugas de expressão, os lasers para retiradas de mancha, preenchimento, tratamento corporal para gordura localizada e calvície.

 

MidiaNews - O mercado está cheio de produtos antienvelhecimento e antissinais. Como saber se são eficazes?

 

Karin Krause – A gente tem uma enxurrada realmente de produtos. Eu acho que o paciente tem que, antes de mais nada, não se automedicar. Às vezes, o amigo do vizinho diz que foi bom e a pessoa já sai comprando. É necessário ter uma recomendação médica porque um produto age de forma diferente em cada pele.

 

MidiaNews - Nos últimos tempos, tem-se falado muito no “efeito cinderela”,  em que as rugas e imperfeições somem em poucos minutos, após a aplicação de certos produtos.  O que a senhora tem a dizer sobre esses procedimentos?

 

Karin Krause – Eu sou contra porque não é um tratamento, é apenas uma falsa sensação de tratamento. O ideal realmente é você ter um acompanhamento com um tratamento mesmo. Hoje a gente tem laser, os fios de sustentação, substâncias que estimulam o colágeno interno. Isso sim é tratamento. O "efeito cinderela" não, é só uma camuflagem. Agora, para uma festa que você quer estar um pouco melhor, acho que é válido. Mas é importante entender que isso não é um tratamento.

 

MidiaNews - Um outro modismo que surgiu no verão foi a chamada fita de bronzeamento. Ela oferece risco?

 

Karin Krause – O bronzeado nada mais é que o organismo salpicando o pigmento para cima para proteger a pele da radiação. O bronzeado é uma defesa. Então, o Sol excessivo não é bacana. Acho que  é uma cultura que cada vez mais vai cair porque não é saudável. A gente tem que tomar Sol para produção de vitimada D, não para esse culto do bronzeado. Tem que evitar.

 

MidiaNews - Aliás, a Dermatologia é uma área da Medicina que está sempre precisando fazer alertas contra soluções mágicas caseiras. Como fazer para conscientizar as pessoas do riscos?

 

Karin Krause - A Dermatologia é uma especialidade dentro da Medicina que não surgiu em cinco minutos. Então as pessoas precisam entender que não existe uma receita padrão para todo mundo.

 

Não caia nessa armadilha de que se é bom para fulano e ciclano, é bom para você também. Porque se fosse assim, a gente não precisaria de um médico.

 

Eu vejo muito na internet pessoas ensinando ceras caseiras, onde é utilizado o limão com açúcar e aí depois aquece. Já atendi casos gravíssimos de queimaduras de exposição ao Sol após uso de limão em cera. É muito perigoso! As pessoas não podem cair nessa armadilha.

 

 

 

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