Em depoimento ao secretário de Estado de Segurança, Rogers Jarbas, a delegada Alana Cardoso acusou a ex-secretária adjunta de Inteligência da Segurança Pública, Alessandra Saturnino, de ser a responsável por incluir na Operação Forti dois números sem relação com a operação policial.
A informação consta em ofício encaminhado por Jarbas ao diretor geral da Polícia Civil do Estado, Fernando Vasco Spinelli, na quarta-feira (31), para apuração do fato.
De acordo com o documento, o governador Pedro Taques (PSDB) solicitou que a Sesp apurasse a denúncia feita pela juíza Selma Arruda, em ofício encaminhado a Corregedora-Geral do Tribunal de Justiça, na qual revela que a delegada Alana Cardoso pode ter feito “barriga de aluguel” na operação Forti.
A “barriga de aluguel” é uma tática ilegal feita quando números de pessoas comuns são listados como se pertencessem a alvos de investigações policiais. Os dois telefones interceptados foram de Tatiane Sangalli, suposta ex-amante de Paulo Taques, ex-secretário de Estado Chefe da Casa Civil, e a ex-assessora dele, Caroline Mariano dos Santos.

“Diante do exposto, esta autoridade convidou a delegada Alana a comparecer à Sesp para prestar esclarecimento, o que foi prontamente atendido, tendo a mesma, durante o termo de declarações, externado que no início de 2015 foi iniciada uma operação denominada Forti, a qual tinha como objetivo acompanhar e reprimir as atividades ilícitas praticadas por membros de organização criminosa atuantes em presídios do Estado, sendo constituída uma força tarefa composta por integrantes das agências de inteligência da PJC, PM, Sesp e Sejudh, cuja coordenação ficou a cargo da delegada de polícia Alessandra Saturnino, à época Secretária Adjunta de Inteligência”, diz trecho do documento.
Segundo Alana, em março de 2015, Alessandra Saturnino trouxe ao seu conhecimento supostas ameaças feitas em desfavor de autoridades de Estado e pediu que dois terminais telefônicos móveis fossem incluídos no bojo da operação Forti.
“Sem que, para isso, fosse produzido relatório técnico expondo os motivos da interceptação, e mais, sem que houvesse qualquer relação com atividades ilícitas praticadas por membros de organizações criminosas atuantes em presídios do Estado”, diz outro trecho do documento.
Ainda de acordo com Alana, Alessandra Saturnino a orientou a separar os áudios dos dois números interceptados da operação Forti, criando uma operação paralela chamada de “Pequi”.
Desta forma, os áudios não foram encaminhados à Justiça, conforme informou a juíza Selma Arruda no ofício.
“A fim de operacionalizar o acompanhamento da situação acima mencionada, de acordo com Alana, os áudios foram implantados em separado dentro da operação Forti, tendo esta operação paralela recebido a denominação de Pequi. Cujos áudios foram direcionados, via [sistema] Guardião, a um único analista, Rafael Meneguini, o qual utilizava como plataforma de trabalho da então secretária de inteligência da Sesp, Alessandra Saturnino”, diz trecho do documento.
Com base nas informações do depoimento de Alana, o secretário pediu, na última segunda-feira (29), relatório detalhado sobre as operações Forti e Pequi. Ele encaminhou ofício ao diretor de Inteligência da Polícia Civil, Gerson Vinícius, solicitando informações técnicas sobre os procedimentos.
Em resposta, o setor de Inteligência informou que a operação foi implantada em nível organizacional da Sesp, em 2 de fevereiro de 2015, e foi encerrada em 26 de junho do mesmo ano. “Ademais, acrescentou ainda que para a referida operação foi liberado acesso apenas à rede de inteligência da Sesp, tendo os respectivos analistas acessado o sistema Guardião por meio da rede Infovia, ficando a cargo da Sesp todo o controle e auditoria dos relatórios técnicos elaborados".
Reprodução
A ex-secretária adjunta de inteligência da Sesp, Alessandra Saturnino
“Quanto à operação Pequi, indo ao encontro da versão apresentada por Alana, o direito da inteligência da PJC esclareceu que em 27/02/1, a delegada Alana solicitou que alguns alvos fossem separados da operação Forti, e que somente ela e o analista Rafael Meneguim tivessem acesso aos mesmo, isso por motivo de compartimentação, criando, por questões operacionais, a operação Pequi, que somente existiu internamente, sendo implantada mo nível organizacional da Sesp".
Contradição
A delegada Alana também informou à Sesp, em depoimento, que manteve contato com o delegado Flávio Stringueta, então titular da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), a quem notificou sobre os fatos relacionados às operações Forti e Pequi, “bem como o que havia sido detectado nos áudios”.
Conforme a delegada, Stringueta teria acertado que representaria pela interceptação telefônica dos terminais pertencentes à ex-amante de Paulo Taques e à ex-assessora dele.
No documento, o secretário Rogers Jarbas apontou uma suposta contradição nas declarações de Stringueta, com relação a Operação Querubim.
Pois, conforme ele, ao solicitar a interceptações à Justiça, o delegado alegou que soube "dos fatos por meio de denúncia anônima realizada por meio de um orelhão público, quando, segundo consta, os fatos chegaram ao seu conhecimento por Alana, o que gerou, conforme amplamente divulgado na imprensa, a operação Querubim”.
A operação Querubim foi deflagrada em março de 2015 pela GCCO investigou uma suposta ameaça de que o ex-comendador João Arcanjo Ribeiro tramava contra a vida do governador Pedro Taques (PSDB).
A investigação interceptou, com autorização da Justiça, Tatiane Sangalli e Caroline Mariano dos Santos.
Na terça-feira (30), o desembargador Orlando Perri determinou que o delegado Flávio Stringueta seja o responsável pela investigação do esquema de interceptações clandestinas em Mato Grosso.
Leia mais:
Delegado diz que juíza foi “infeliz” e “maculou” operação policial
Juíza suspeita que delegada tenha feito "barriga de aluguel" em ação
Delegada citada por juíza diz que caso é grave e envolve "honra"
Polícia investigou e grampeou suposta amante de ex-secretário
Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).
|
0 Comentário(s).
|