Crise Econômica

A crise atingiu de cheio o comércio em Mato Grosso. Na última semana, o restaurante Duca’s 7, um dos mais tradicionais de Cuiabá, fechou as portas.
Outras grandes redes da Capital, como a Dercoliz, que comercializa móveis finos e artigos para decoração, não suportou a queda nas vendas e encerrou as atividades de uma unidade na Avenida Fernando Correa da Costa.
Quem anda pelas principais ruas da cidade vê muitas lojas fechadas. Na Rua Pedro Celestino (a antiga Rua de Cima), no Centro Histórico, tradicional área comercial da Capital, lojas Diz e a D’Paschoal desocuparam os imóveis, que ostentam placas de “vende-se” ou “aluga-se”.
Nessa rua, pelo menos, 18 estabelecimentos fecharam as portas, nos últimos três anos, incluindo lojas de roupas, esportes e de material fotográfico, óticas, restaurante e até uma agência do Banco Itaú.
Os efeitos da crise atingem também as lojas dos shoppings centers. No Goiabeiras, uma filial da operadora de telefonia celular TIM encerrou a atividade.
Marcus Mesquita/MidiaNews
A Dercoliz fechou a loja da Avenida Fernando Correa da Costa
Em Várzea Grande, a Avenida da FEB, tradicional centro de compras da segunda maior cidade de Mato Grosso, sofre um explícito declínio econômico. Mas este fato não está ligado apenas à crise.
Desde 2012 , os empreendimentos localizados no endereço não têm suportado a situação caótica provocada pelo implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). No total, mais de 20 empresas encerram suas atividades.
Conforme dados da Junta Comercial do Estado, somente no primeiro semestre deste ano, 5,8 mil empresas foram fechadas em Mato Grosso. O resultado disso é mais pessoas desempregadas.
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a taxa de desemprego no Estado passou de 5,7% (entre janeiro a maio de 2015) para 9,1% (entre janeiro a maio de 2016).
Em entrevista ao MidiaNews, o empresário Eduardo José de Magalhães, dono do tradicional bar e restaurante Duca’s 7, disse que se sentiu mais triste pelo fato de demitir seus funcionários do que propriamente de fechar o seu negócio.
“É lamentável isso, eu não gostaria de fazer. Eu tinha parceiros de mais de 10 anos de empresa. São companheiros que ajudram muito nesse período. Gostaria de continuar com eles, mas, infelizmente, não deu. Por isso, foi melhor tomar essa decisão agora, quando ainda tenho recurso para poder pagar todos os direitos trabalhistas, do que chegar em um momento que não posso honrar meus compromissos”, afirmou.
O Duca’s 7 estava há 29 anos no mercado. Magalhães contou que chegou a ter 46 funcionários e acabou encerrando as atividades com 25.
Segundo ele, a queda do faturamento de 2014 para 2015 foi 30%. Já de 2015 para 2016, a situação se agravou ainda mais, chegando a 40%.
“A estrutura do Duca’s 7 era muito pesada. Para se manter funcionando, precisa de investimento muito alto e, devido à crise começamos a trabalhar no vermelho. Agüentei até muito tempo, porque já era para ter fechado há oito meses”, disse.
Marcus Mesquita/MidiaNews
Magalhães: melhor fechar quando ainda tenho recurso para pagar direitos trabalhistas
Magalhães contou que o Duca’s 7 nasceu entre uma parceria dele com um amigo. Depois de um ano, esse amigo abandonou o negócio e ele passou a tocar o restaurante sozinho.
Conforme ele, a localização era privilegiada, já que a Avenida do CPA era um das mais baladas de Cuiabá, na década de 80 e 90. “Para você ter uma ideia, eu morava próximo à Avenida Mato Grosso e vinha para cá de pé porque não tinha lugar para estacionar”, disse.
Com o sucesso do restaurante, de acordo com Magalhães, ele comprou o prédio que era alugado e o transformou em uma das instalações mais modernas da Capital.
“O Duca’s 7 era um dos melhores restaurantes de Cuiabá, não tenho dúvida nenhuma disso. Tudo que eu fazia era investir nesse negócio, não só por dinheiro, mas por paixão”, afirmou.
E é essa paixão que pode fazer com que Magalhães volte, há algum dia, reabrir o Duca’s 7. Por ora, ele pretende alugar o prédio.
“ Eu vou esperar um pouco mais. Tem momentos que você tem que dar um passo atrás para tomar impulso. Então, eu acho que esse é o momento, dar uma parada, ver o que vai acontecer e daí tomar outras decisão.Tenho outras atividades, sou pecuarista. As coisas para o agronegócio não estão tão ruim como estão para outros negócios, mas ainda assim não temos garantia de nada”, disse.
“O que podemos esperar de um país que tem uma presidente afastada, o presidente da Câmara Federal afastado, o presidente do Senado ameaçado de ser preso. Qual o empresário que vai querer investir no país?”, completou.
Desrespeito
Fundada há 25 anos, na Avenida Tenente Coronel Duarte (Prainha), próxima ao cruzamento com a Avenida Dom Bosco, a Só Utilidades era referência no comércio de utensílios domésticos em Cuiabá.
O fundador da empresa, Sérgio Rotini, contou a reportagem que chegou a ter mais de 25 empregados.
Conforme ele, quando as obras do VLT começaram, em 2012, a empresa demitiu 10 e, em setembro de 2015, quando encerrou a atividade, estava com apenas sete.
“As vendas começaram a diminuir muito, cerca de 50%. As empresas do endereço chegaram a montar uma comissão para tratar do assunto com o Governo do Estado, mas nada adiantou. O que fizeram com os empresários foi uma barbaridade, um desrespeito”, afirmou Rotini.
Ele também lamentou o fato de ter demitido os colaboradores da Só Utilidades. “O mais triste disso, no meu modo de vista, não foi o fato de fechar a loja, mas sim as pessoas perderem o emprego. Isso aí é difícil”, disse.
Ele lembrou que, logo depois de fechar a Só Utilidades, outras empresas da Prainha também não agüentaram segurar o negócio, a exemplo da Caiado Pneus.
“O Colégio São Gonçalo, que sempre foi referência educacional também perdeu muitos alunos por causa dessa obra que a gente nem sabe se vai ficar pronta um dia”, lamentou.
Hoje, Rotini dedica-se ao ramo madereiro.
Comércio – setor mais afetado pela crise
O economista Edisantos Amorim revelou que o comércio foi o setor que mais foi afetado pela crise econômica.
Santos explicou que a economia brasileira já vem passando por um recessão há dois anos, por conta de uma crise política.
Conforme o economista, o país perdeu o controle da inflação e isso fez com houvesse um aumento súbito nos preços dos produtos.
“O comércio foi o setor mais foi afetado diretamente por toda essa crise. Setores que tinham benefícios do Governo Federal, a exemplo da indústria de linha branca e eletroeletrônico, eram alguns segmentos que, pelo menos até um ano atrás, ainda tinham um certo subsídio em relação à desoneração fiscal. Agora, o varejo de uma forma em geral, esses foram os mais afetados porque não têm nenhum benefício do Governo Federal. Então, uma vez que Governo Federal adota uma política de reter o consumo, pensando em combater a inflação, acaba aumentando a recessão no mercado. o que reflete em futuros resultados negativos no comércio”, afirmou.
Santos lembrou que, no último dia 8, o Governo Federal editou o relatório mensal do Banco Central e engessou a taxa básica de juros em 14,25%, enquanto o mercado aguardava, uma queda.
“Agora, se o governo, no próximo mês, reduzir a taxa básica de juros, podemos ter um cenário favorável para o comércio de modo geral, porque com a taxa básica de juros menor, o mercado consegue investir mais e começa a pensar em novas contratações. Mas nada também de um resultado muito positivo na economia neste ano. Se isso acontecer, terá somente uma melhora discreta, nada ainda que justifica a perca nesses últimos dois anos”, completou.
Conforme o economista, uma retomada na atividade econômica mais pujante no comércio vai acontecer, no mínimo, a partir do segundo semestre de 2017 para 2018.
“Mas, para isso, o Governo Federal precisa tomar algumas medida, para que os resultados apareçam e se reflita nos Estados e Municípios”, afirmou.
Cortar gastos
Segundo o economista Edi Santos, para os empresários manterem seus negócios e não terem prejuízos até 2018, precisam, primeiramente, cortar gastos, não fazer grandes estoques e aumentarem seu poder de contra se unindo com outras empresas do mesmo ramo.
“Os empresários dos grandes centros estão criando acordos comerciais para comprar os produtos juntos. Assim, eles conseguem descontos com os fornecedores para não repassar o preço para consumidor, porque já que o consumo está comprometido, não justifica vender um produto com valor alto ”, explicou.
O economista ainda disse que a classe empresarial tem que buscar uma relação mais entrelaçadacom o Governo de Mato Grosso, no sentido de buscar alternativa para que tenham, pelo menos, uma situação mais favorável em relação a impostos e tributos.
“Os empresários, através das suas entidades, têm que unir força e tentar buscar uma negociação pelo menos para garantir, aqui dentro do Estado, uma redução nas suas alíquotas tributárias de impostos”, disse.
Orientação
A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) disse que está orientando os empresários do ramo varejista a buscar formas de driblar a crise no Estado, com realizações de palestras e workshop.
A CDL acredita que, neste momento de dificuldade, os empresários precisam estar atento no perfil dos consumidores e tentar fidelizar os clientes antigos.
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9 Comentário(s).
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Eduardo Magalhaes 21.06.16 14h26 | ||||
O fechamento do Duca's 7, não se deu por motivo de falência e nem mesmo devido à obras da copa, foi apenas um decisão administrativa corajosa em face à situação econômica e política, que ora vivenciamos. Reafirmamos, que o Duca's 7, ao longo dos seus 29 anos de existência, cumpriu e continuará a cumprir com todos seus compromissos financeiros, trabalhistas e sociais. Quer ainda agradecer a sociedade cuiabana, pelo apoio e respeito por todos estes anos. | ||||
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Victor 20.06.16 11h27 | ||||
O governo federal da presidente afastada, não estava grandes coisa, mas que houve uma tentativa incansável de descredibilizar, contestaram a copa de forma ininterrupta, deu no que deu, o empresariado torceu e torceu, para a crise, conseguiram a propaganda é a arma do negocio. Agora tão aí com o tema "não há crise, trabalhe". Hoje não há mais protestos. Tá tudo "blz" | ||||
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J Lemos 20.06.16 11h13 | ||||
Existem comércio que realmente foram prejudicados pelas durante as obras e pelas obras inacabadas para a Copa. Agora justo esse Ducas sempre foi meio sem graceira (e vazio) desde sempre, no almoço era caro e tinha pouca variedade ( fui numa feijoada num sabado a uns 8 anos atras tinha umas 6 pessoas apenas), e a noite com o crescimento da praça popular e hamburguerias essa concorrência com certeza prejudicou tb. O deck é na mesma avenida e continua bem. | ||||
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Mauro 20.06.16 08h21 | ||||
Esse é o grande "LEGADO" da copa, lojas fechadas e outras em vias de fechar, gerando desemprego e tristeza para a população! Quando ficamos sabendo que Cuiabá iria sediar jogos da copa, já sabíamos que isso poderia acontecer, mas o interesse pessoal dos políticos que estavam no comando à época falou mais alto e hoje estamos pagando o preço! Infelizmente o povo sempre paga pelos desmandos dos políticos. Até quando isso vai acontecer? | ||||
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Jorge 20.06.16 08h15 | ||||
Neste país, Brasil, em relação à crise, únicos elementos da população que não são afetados são a dos políticos, porque além dos inúmeros benefícios que recebem (ajudas de todo tipo) recebem a verba indenizatória. Parece que essa verba, diante de outros inúmeras situações, não afetou, mas foi a partir dela que desencadearam muitas perdas de receitas, nisso, quem acabam pagando o pato por altos tributos são as classes trabalhadoras. | ||||
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